Na trilha do tiro
Jornalismo

Na trilha do tiro


Um mosaico é um desenho feito com pedaços de diferentes objetos. O termo foi usado por Abraham Moles para designar uma cultura fragmentada, refletida nos conteúdos das mídias, típica da pós-modernidade. Ao público, são oferecidos “nacos” da realidade; compor quadros mais completos de um acontecimento depende de uma busca de pedaços que se complementem, que façam sentido.
Nem sempre estes pedaços estão disponíveis. Um jornalismo que não se preocupa em contextualizar e agregar informação – um jornalismo mosaico – é criticado pela pesquisadora Mar de Fontcuberta, para quem o jornalismo deve adotar um pensamento complexo na produção de notícias – afinal, vivemos em uma sociedade complexa.
Quando então nos deparamos com uma morte de um sem-terra em uma reintegração de posse, morto com um tiro disparado por um brigadiano, pelas costas, e a imprensa tenta descrever “a trilha até o tiro”, o “passo a passo dos episódios que levaram à morte do sem-terra” (ZH de 22/08/2009), é de se esperar que mais pedaços sejam combinados neste mosaico.
Não é o que ocorre. A busca dos jornalistas foi apenas até o dia 12 de agosto, quando a fazenda Southall, palco da morte, foi invadida. Ora, um tiro pelas costas não ocorre à toa. Ele é fruto de uma tensão crescente entre a Brigada Militar e o MST, e os acontecimentos que demarcam esta tensão estão além do episódio de São Gabriel. Estão há pelos menos dois anos de distância, quando a orientação para as reintegrações de posse tem sido de isolar os sem-terra e manter pelo menos duas barreiras para que imprensa, direitos humanos, advogados, autoridades não acompanhem as ações.
A trilha do tiro está, por exemplo, na violenta ação na Fazenda Tarumã, em Rosário do Sul, em março do ano passado, quando cerca de 900 mulheres e 250 crianças sem-terra protestavam contra a destinação de áreas para plantações de eucalipto (mais um naco da questão agrária). A (preguiçosa?) cobertura da imprensa registrou a fala oficial, de uma reintegração pacífica, bem sucedida.
No caso das mulheres de Tarumã, que foram levadas de ônibus para Santana do Livramento e passaram horas sem comida nem água, outros “pedaços” vieram de blogs de moradores e depois ganharam o mundo: pessoas feridas, humilhadas, gritando os horrores pelos quais haviam passado em um dia inteiro sob a ação da Brigada Militar. E este é apenas um exemplo das constantes situações de conflito dos últimos anos.
Ou recompomos o mosaico da violência institucional adequadamente, ou ficaremos sempre acreditando que o rastro do tiro é simples conseqüência de uma invasão, correndo o risco de que este tiro “estilhace” novos acontecimentos.
                                    
(Marja Pfeifer Coelho)

Texto apresentado na disciplina de Crítica das Práticas Jornalísticas.



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