Os métodos, estratégias e técnicas no uso e na tessitura da entrevista
Jornalismo

Os métodos, estratégias e técnicas no uso e na tessitura da entrevista


Mesa 3: Métodos, estratégias e técnicas
No segundo dia de Seminário Aberto de Jornalismo, promovido pelo GPJor, os trabalhos reiniciaram com a proposta de pensar as técnicas, métodos e estratégias da composição de uma entrevista. Para isso, os painelistas – Elisabeth Torresini (Fapa), Maria Jandyra Cavalcanti Cunha (UNB) e Carla Mühlhaus (jornalista e escritora) – trouxeram suas experiências enquanto entrevistadores ou como pesquisadores que vêem na entrevista um método de trabalho em mesa coordenada pelo professor Ronaldo Henn, integrante do GPJor.

Elizabeth Torresini (Fapa)
Elisabeth Torresini diz que enquanto historiadora nunca estava muito próxima da prática jornalista. Porém, quando se pôs a pensar a partir do uso que faz da entrevista para recompor a história, encontrou semelhança no seu trabalho e no do jornalista. “Todos podem ser historiadores, inclusive o jornalista. A diferença é que o historiador reconta suas narrativas sempre apoiada em referências”, destaca, lembrando que referências são as pistas que descobrem e que provam que aquela história de fato existiu. E vai além. Coloca a entrevista como “a história de um presente”. Isso traz a idéia temporal. O que faz entender porque o historiador usa outros recursos já que “não se tem como entrevistar pessoas do passado”. Manifesta certa admiração pela entrevista. Seja como história ou escritora, essa é uma metodologia presente na sua arte de recontar o passado seja de uma empresa ou de um indivíduo ou comunidade. “A entrevista torna as pessoas agentes da história”.

Maria Jandyra Cunha (UNB)
Maria Jandyra Cunha olha para a entrevista enquanto lingüista. Seu objeto dentro do jornalismo é o que chama de entrevista contada. “O que é diferente da entrevista velada”, definida por ela como aquela em que o jornalista dilui num texto o produto da entrevista. “É interessante ver como os jornalistas narram as entrevistas que fazem”, acrescenta. Quando orienta trabalhos na lingüística, pede que o pesquisador faça a transcrição integral das entrevistas realizadas e as apresente na tese ou dissertação. O que para Jandyra faz os estudos na área de jornalismo perder muito, pois poucos adotam essa prática. São estratégias que considera importantes do ponto de vista metodológica, já que traz a pauta e a entrevista enquanto um processo. Afinal, tema a entrevista “como um gênero textual”. Embora muitas vezes seja pensado como um gênero e acabe servindo a outro.

Carla Mühlhaus
Com um tom de bom humor e com muita franqueza, Carla Mühlhaus lembra que quando começou a trabalhar como jornalista não tinha a menor ideia do que era e como se fazia entrevista. Mais tarde, quando desenvolveu uma pesquisa sobre o assunto imaginou um caminho: “levar a prática para teoria, pensando uma monografia baseada em entrevistas”. Foi o que fez.  Hoje, mesmo distante do trabalho de repórter e como autora de livros, muitos contratados por encomenda, sente-se perto da entrevista como método de recontar histórias. “A entrevista está muito ligada a experiência”. Por isso, fala algo semelhante a Eduardo Veras - que participou da primeira mesa do Seminário: “o entrevistador tem de seduzir o entrevistado e o deixar confiante. Não existe boa entrevista sem a confiança dos dois”. Isso porque acredita que o ato dialógico da entrevista deve acontecer a partir de posturas como a troca e a escuta. E não a tensão da combatividade tão típica aos jornalistas.

Embora cada um tenha sua idéia de entrevista todos a reconhecem como um método. Vêem nela o espaço para construir e desenvolver suas estratégias através de uma técnica que acaba sendo própria de cada um. O que há, ainda, comum a todos é a ideia de que o processo de pensamento e execução da entrevista não podem estar alheio. Isso tanto numa pesquisa como numa reportagem. O que atualiza uma idéia já tratada no Seminário Aberto. Depois dessa terceira mesa, é possível se pensar na validade de outras formas de entrevista, como a via e-mail.  Contanto que isso fique posto e claro na narração que se faz daquela “entrevista”.
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(Texto: João Vitor Santos)
(Fotos: Angela Zamin)



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