Ser mediaticamente correto… é disto que o meu povo gosta!
Jornalismo

Ser mediaticamente correto… é disto que o meu povo gosta!


 
Da homília do Domingo passado, a propósito de uma pergunta sobre o sistema de avaliação de professores proposto por Nuno Crato, analisemos a resposta / comentário de Marcelo Rebelo de Sousa.

 
 
Começou assim:
“A ideia de haver avaliação no início e no acesso à carreira docente, para se ser professor, tem lógica.



 
“O haver avaliações periódicas tem lógica

“O haver condições acrescidas de avaliação contínua, tem lógica…”


Ora bem, por esta altura do comentário pensei: “esta pessoa só pode estar de acordo com a prova de avaliação proposta pelo Ministro Crato”. Tem lógica!...

Mas não, logo a seguir Marcelo (como se pode constatar no vídeo) atira com uma série de argumentos (porquê agora, será no Natal...) e termina a concluir que ”a medida pode ser injusta e discriminatória com alguns professores”. 
 
Este pequeno episódio ilustra bem a forma como o comentário político, a discussão e a análise dos assuntos na comunicação social, é feito de forma condicionada.


Note-se que, mesmo aqueles comentadores que estão de acordo com o sentido que norteia uma determinada decisão, em vez de afirmar perentoriamente que a medida é positiva (podendo discordar deste e daquele ponto), por ela ser impopular e – sobretudo - dissonante da corrente “mediaticamente correcta”, optam pela solução mais confortável, isto é, dizer aquilo que o “jornalismo quer ouvir”…


Neste caso concreto, por ex.: então um jornalista verdadeiramente interessado numa opinião bem fundamentada sobre a medida, para que os cidadãos sejam melhor esclarecidos, não deveria interrogar Marcelo sobre a evidente contradição entre a abordagem inicial à questão e a forma como concluiu o seu comentário?!


Não, o objetivo não passa por aí, como podemos observar, as intervenções de Judite apenas se focalizam na obtenção comentários que evidenciem desacordo e oposição, à medida:

 “Portanto é uma medida injusta?”  Ouvida a resposta pretendida, garantida a habitual narrativa anti-governo, assunto encerrado, venha o próximo!


Sobre o assunto em concreto, o que ficaram os espectadores a saber? Apenas que, “em teoria”, a medida é boa mas, na prática é “injusta e discriminatória”... É este jornalismo que esclarece os cidadãos? Claro que não, mas isso não interessa. O importante não é informar, é doutrinar.  

Tal como sucede nesta situação, em que Marcelo diz “assim não”, mas não avança com "o seu" sistema de avaliação “à prova” de injustiças e discriminação (existirá algum?...) -, uma infinidade de problemas que o país enfrenta, é sujeito ao mesmíssimo tratamento mediático.

Como aqui no blog repetidamente se demonstra, existe uma pressão dos media que delimita as correntes que são politica e ideologicamente “bem vistas”, e as que não são. Não é necessária uma análise muito atenta à agenda mediática, para constatar que, de acordo com o posicionamento assumido por cada individuo face a essas correntes, temos um tratamento mediático selectivo que temos abordado na categoria “Filhos e Enteados”:

    - relativamente ao que vem da “esquerda”, predomina uma bondade no tratamento mediatico, designadamente, a total ausência de escrutínio e contraditório do que é dito (Soares, Costa, Dilma Roussef… );

     - já em relação ao que vem da “direita”, a hostilidade impera, e as frases e o posicionamento deste conjunto de personalidades, tem de enfrentar um contraditório jornalístico implacável e, não raras vezes, a manipulação do que é dito através da distorção do contexto em que essas posições / frases foram proferidas (basicamente, qualquer pessoa que se identifique com a direita… I. Jonet, Soares dos Santos, Ulrich, César das Neves, etc.);


Este jornalismo militante, que faz questão de demonstrar o que é “mediaticamente correto” dizer, aliado à circunstância de toda a gente quer “parecer bem” na televisão, provoca  uma uniformização da corrente de opinião nos jornais, rádio e televisão. Paralelamente, vai-se formatando a opinião pública à medida da sensibilidade e pensamento do grupo resrito que controla a agenda mediática: jornalistas e redacções.


Neste país, com uma comunicação social claramente alinhada “à esquerda”, qualquer medida tomada por um governo “de direita”, é imediatamente arrasada. Nos destaque e manchetes, apenas a posição e voz dos elementos cujos interesses são afetados, se faz ouvir . Entretanto, aproveitando a onda de indignação, temos os chavões dos mesmos de sempre a dizer que havia "outro caminho”, que havia “uma alternativa” e – claro - sem cortes, sem sacrifícios, sem dor.

Sobre qual seria esse caminho alternativo, nem um pio (tal como no comentário de Marcelo). Nos telejornais, graças ao “wishfull thinking” das redações, a realidade concreta vai sendo substituída por uma realidade paralela onde, por vezes, até parece que os problemas não existem, que é o governo que os cria, para levar a cabo a sua própria agenda...


Com uma informação mais assente em comentários e opiniões de conveniência do que em factos concretos, vai-se formando uma “opinião pública” contrária a qualquer mudança e reforma. Aos cidadãos, vai-se transmitindo a ideia que uma dada decisão, em vez de inevitável, só é necessária porque A e B o desejam (cortes, por ex.), só avança para agradar ao grupo x e y, que a medida só vai agravar o problema, etc., etc…


É o contexto perfeito para a proliferação dos políticos oportunistas.
 

Quando o actual governo cair e um novo governo chegar, fará sensivelmente o mesmo que o anterior e nada do que prometeu na oposição, lá teremos “o povo” a lamentar-se que “foi enganado” pelos políticos. A comunicação social que, em tom pesaroso, continuará a dizer que cada vez “a democracia está mais pobre”…
 
Será assim? Será que o apenas os políticos que “enganam” o povo?

Não será que aqueles que têm por missão informar os cidadãos, também têm grandes responsabilidades neste processo? 

 




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