Jornalismo
"Jornalismo online é um braço do jornalismo tradicional"
Quando surgiu e por quais mares navega o Kontrastes 2.0?
O Kontrastes 2.0 é um blogue recente, criado em outubro de 2006, e é o resultado de blogues experimentais, por onde me movi desde março de 2004. O Kontrastes 2.0 é um blogue generalista, que procura abordar diferentes facções do real, isto é, vai desde a análise política cotidiana, à interpretação dos comportamentos sociais, passando pelo comentário esportivo e terminando em temáticas culturais, como criticas de cinema, divulgação de biografias, etc.
Como os portugueses têm vivido o fenômeno dos blogs? Qual foi o boom do surgimento deles?
A blogosfera portuguesa é hoje uma das mais fortes manifestações da experiência cívica e de auto-edição no ciberespaço português e internacional. Ao contrário do que acontece muito com a blogosfera anglo-saxónica e brasileira, a blogosfera portuguesa é muito mais temática, expressando-se bastante na participação cívica e nos conteúdos formais, como os blogues de Jornalismo e Ciberjornalismo, os blogues políticos, os blogues humorísticos, poesia e até institucionais.
O boom da blogosfera portuguesa deu-se entre 2003 e 2004, quando surgiram os primeiros blogues e atrás desses, novos começaram a ser criados. Em 2003, a blogosfera portuguesa compunha-se de uma mão cheia de bons blogues que vieram a se juntar a um sem fim de blogues, criados diariamente, dando uma dimensão veloz à vida cibernética em português.
Em suma, a blogosfera portuguesa está bem e recomenda-se. Tem uma vivência própria muito intensa e tem sido alvo de sucessivas investigações jornalísticas e acadêmicas, servindo muitas vezes de “fonte” para o trabalho jornalístico.
Qual é o jornalismo feito atualmente em Portugal?
Essa é a pergunta que os blogues de reflexão mediática fazem constantemente. Não é fácil encontrar um padrão coerente. Há de tudo. Temos bom jornalismo, mau jornalismo, jornalismo sensacionalista… Enfim, mais do que um tipo de jornalismo temos diversos profissionais do jornalismo. A credibilidade do jornalismo vai e vem por ciclos, atravessando fases de credibilidade incontestável e momentos de crise notória.
Qual o ciclo atual?
Eu diria que o ciclo atual é de expectativa. Nem descredibilidade nem credibilidade cega. As pessoas conhecem as linhas editoriais dos diversos jornais, sabem quais os mais sensacionalistas e os mais sérios, por isso a escolha de meio de recolha de informação é consciente.
Mais do que nunca, as pessoas estão atentas ao que se passa nos media, estão informadas, e sabem interpretar o que é bom e mau jornalismo. Do meu ponto de vista, a reportagem continua sendo a mais válida forma de jornalismo, o jornalismo de investigação, quase tudo o resto é pura corrida para ser o primeiro a divulgar informação (e não informar).
Qual a diferença entre divulgar uma informação e informar?
Uma questão que nos colocaria o resto do dia aqui. Basicamente, divulgar informação é disponibilizar aos públicos conteúdos noticiosos de forma o mais isenta de juízos de valores e objetivamente possível. Informar é algo mais. Presume-se que informar remeta para clarificar, explicitar, formar conscientemente as pessoas. Informar é colocar aos públicos diversas ferramentas para que, com o tema em análise, sejam capazes de fecundar idéias e raciocínios próprios.
Quando falamos de reportagem no Brasil vem logo à cabeça apenas reportagens veiculadas em impressos (revistas, principalmente). Como anda o impresso em Portugal? Há a discussão do fim dele e da ascensão, cada vez maior, da internet como fonte primordial de informação?
Não poria as coisas nesses modos. A reportagem em Portugal tem um forte pendor televisivo, havendo programas dedicados apenas a grandes e médias reportagens, assinadas com manifesta qualidade. Quanto ao impresso, há sempre esse medo de que a web substitua o "palpável", por assim dizer, mas as pessoas continuam lendo jornais no metrô, no ônibus, etc. Aliás, continuam vindo para as bancas jornais novos e novas revistas.
E o jornalismo online? Como ele tem se manifestado?
O jornalismo online continua sendo um braço do jornalismo tradicional. Muito do jornalismo digital é feito por jornalistas que “saltaram” da imprensa escrita para a imprensa digital. Da mesma maneira que muitos dos jornais digitais são produzidos por jornais de impressão tradicional, servindo mais como promotor de conteúdos formais. Claro que há exceções. Há também os fóruns e a possibilidade de comentar as notícias na imprensa online. O jornalismo digital caminha para o interlaçar com a blogosfera. O jornal online é um blogue formal. Tal como muitos blogues estão ligados aos jornais. Resumidamente, os jornais digitais são uma boa forma de leitura rápida dos acontecimentos principais.
O jornalismo tradicional ainda pauta o online (como nas primeiras manifestações da web)? Você consegue vislumbrar os dois andando em caminhos diferentes?
Em caminhos diferentes parece-me complicado, pelo simples fato de que estamos sempre falando de jornalismo. Acho sim, que o webjornalismo poderá adquirir cada vez mais um caráter de infoentretenimento e fotojornalismo. Isto é, o online será sempre permanentemente atualizado, fará constante uso de links para outras informações e mais desenvolvimentos, terá sempre mais imagens, enfim, será mais dinâmico e com fator de entretenimento. No entanto, não será totalmente distante do jornalismo tradicional, pelo simples fato de que muitos jornais online são pertença de jornais tradicionais.
De que forma as novas tecnologias e o acesso à internet têm mudado o fazer jornalístico?
A globalização criou fluxos de informação constantes, é aí que reside o sucesso do digital, estar sempre atualizado e informado, ter sempre informação para dar. É o fast food do jornalismo.
É somente na possibilidade de atualização quase que instantânea que a internet pode interferir? Você não acha que a possibilidade de qualquer um fazer uma foto, um vídeo, um texto e publicar na internet, num blog, por exemplo, não é uma forma de interferir também no fazer jornalístico atual?
Boa pergunta. Cada vez mais a produção amadora de conteúdos tem maior peso na divulgação de informação e oferta de diversidade. Os blogues locais, por exemplo, servem perfeitamente o papel de jornalismo regional, proporcionando uma fonte permanente de informação ao jornalismo profissional – é grátis e está à distância de um click. A auto-edição, para além de oferecer mais conteúdos a diversos públicos e funcionar como fonte do jornalismo, apresenta-se também como um excelente watchdog do jornalismo, denunciando o mau jornalismo e vigiando sensacionalismos.
Qual sua análise sobre os blogs e as formas colaborativas (wikis) nos moldes de comunicação atual?
A interpretação ou análise que faço dos blogues do ponto de vista da comunicação de massas – que é aquela em que vivemos – entende-se como o resultado natural da procura de produção de conteúdos pessoais ou de auto-edição, num mundo onde cada um está informado e tem uma palavra a dizer, aproveitando as ferramentas de comunicação que tem ao seu dispor.
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