Jornalismo
A noção de gênero atravessa midias?
Arquivo Lina Bo e P.M. BardiTem um degrau dos estudos de gênero no campo do jornalismo que é preciso subir:
galgar a compreensão sobre os lugares da instituição jornalística e da mídia na constituição do gênero. Se realmente podemos falar de gêneros jornalísticos, então a mídia deve ter um lugar secundário. Se a mídia for definidora, o mais correto seria falar em gêneros de impresso, radiofônicos, televisivos, digitais. Se for um terceiro caminho, o que é provável, a questão esta em colocar os poderes do campo (Bourdieu), ou melhor, da "formação discursiva" (Foucault), e os poderes da mídia (Debray, McLuhan).
MídiaSe colocarmos a mídia como o elemento mais forte, estaremos situando os regimes e propriedades da mídia como condicionadores do gênero. Que propriedades seriam essas? Das propriedades de que fala Debray (1991): tradução-operação do conhecimento, sistemas semiológicos, influência nas técnicas (de redação, por exemplo), redes técnicas, sistema de transmissão, sistema de estocagem, interlocução e espaço-tempo particular. Seriam os regimes do que se chama em Analise do Discurso de "dispositivo" (material, suporte e tecnologia).
O calcanhar de Aquiles parece estar nos sistemas semiológicos e de transmissão. A natureza da imagem em movimento somada à grade de programação da TV, por exemplo, implicaria gêneros próprios dessa lógica O dialogo entre um jornalista e um candidato à presidência da República, seja em um telejornal ou em um Talk Show, não deve ser considerado uma entrevista? Se comparamos com entrevistas em vídeo arquivadas nos sites jornalísticos, então, já estaremos a falar de outra mídia Mas o "sistema de estocagem" mascara a tal ponto que diremos ser um tipo de arquivo.
Formação discursivaSe, por outro lado, colocarmos a "formação discursiva" como o elemento mais forte, estaremos escolhendo
como condicionadora do gênero a regularidade entre objetos (do que se fala - Em jornalismo, tipos de fatos, acontecimentos, "verdades", etc - Perelman e Olbrechts-Tyteca);
tipos de enunciação (de que maneira de fala; regida por sistemas de diferenciação e relação, direitos de intervenção e de decisão, posição do sujeito na rede de informações),
conceitos ( a partir do que se fala; que se forma segundo formas de ordenamento dos enunciados, forma de coexistência dos enunciados, processos de intervenção aplicados aos enunciados) e
estratégias (com qual posicionamento). Entendendo-se aqui as mudanças intrínsecas à formação discursiva, seja por razões sócio-históricas ou culturais. " (...) D'une part, il s'agit de metre en évidence le jeu relationnel entre objets, énonciations, concepts, et stratégies; d'autre part, il s'agit de mettre en évidence le jeu relationnel au sein des éléments, qui ne sont figés, ni permanents. L'ordre du discours implique de la dispersion" (Ringoot et Utard: 2005 : 40 e 41)
De uma forma geral (ainda não analisada a fundo), é razoável dizer que, seja para a imprensa escrita, seja para a televisão,
a atividade jornalística trabalha com os mesmos objetos, principalmente se tratamos de mesmo pais. Os enunciados não guardariam, por isso, semelhanças constitutivas? Pensando-se em conceitos, não se poderia dizer que seu processo de formação e mudanças não é mais histórico e temporal, do que de mídia? é certo que as estratégias discursivas, como os enunciados, são adequados à mídia. Entretanto, não se deve dizer que a linha transversal da atividade jornalística perpassa as mídias de maneira definidora?
Cruzamento e/ou comparaçãoQuais as saídas metodológicas para se vencer essa etapa? Sugestões?
Uma analise comparativa entre diferentes mídias poderia ser produtivo. Uma analise produzida por especialistas de diferentes mídias; já que é essa nossa constituição acadêmica, consequência, acreditamos, da natureza analógica das mídias e efetivo resultado pratico para a profissão.
Outra possibilidade, uma vez que se acredite nesses fundamentos, seria
o cruzamento desses elementos numa mesma mídia e mesma formação discursiva. Por exemplo, os diversos tipos do discurso jornalístico na mídia digital.
Ou ainda, mais interdisciplinar e portanto mais difícil academicamente, seria uma
analise comparativa de diferentes formações discursivas numa mesma mídia. Uma opção dentro do campo da comunicação seria, por exemplo, comparar tipos do discurso jornalístico com o discurso publicitário Seria enriquecedor...
A noção de gênero?Como dizem pesquisadores franceses, o melhor para se conhecer as "leis" do gênero discursivo, é deixar a noção de lado, num primeiro momento, para se chegar a ela depois. Sábios senhores.
Obs: Texto escrito para o blog em francês e transcrito aqui.Referências:
RINGOOT, Roselyne & UTARD, Jean-Michel. Le journalisme en invention. Nouvelles pratiques, nouveaux acteurs, Rennes, PUR, coll. Res Publica, 2005.
FOUCAULT, Michel. L'archéologie du savoir. Paris, Gallimard, 1969.
DEBRAY, Régis, Manifestos Midiológicos, Petrópolis, Vozes, 1995.
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