Jornalismo
Ainda os swap... Produtos tóxicos informativos
(por
Pinho Cardão, 4ª República)
"Na sua edição de ontem, o DN titulava em manchete de grossas letras na 1ª página: Ministra contratou avaliador de swaps que tentou vender contratos tóxicos.
Na sua edição de hoje, o mesmíssimo jornal, mas em letra envergonhada, a meio da 2ª coluna da página 4, desmente o que ontem afirmara: "estes contratos, como explicaram especialistas ouvidos pelo DN, não são tóxicos (ao contrário do que assumiu este jornal na sua manchete de ontem), nem especulativos...". E mais acrescenta que, à época o Eurostat aceitava esse tipo de operações, como o próprio Citigrou exemplifica com contratos na Áustria, na Finlândia e na Dinamarca.
Apesar disto, o DN prossegue a campanha, referindo em letras garrafais na 1ª página: Secretário de Estado obrigado a demitir-se por ter esquecido reuniões.
No meio de tudo isto, produtos tóxicos verdadeiros são os que os media diariamente nos têm servido. E aí não há demissões, nem rigor, nem exigência particular. Directores, Directores Adjuntos, Subdirectores, Editores podem estar descansados. Têm sempre à mão a edição do dia seguinte."
Para além do descrito no post, acrescento outro episódio que sugere uma tendência que nos próximos dias se poderá confirmar (ou não...): Até à sua demissão, enquanto se discutia na comunicação social a conduta de Pais Jorge em 2005-06 - então ao serviço do CitiGroup - o "produto" que ele vendia era "tóxico", "maldito" - sim, parece que era de tráfico que se falava... Entretanto, com a sua saída de cena, alguns constataram o óbvio: se existiram várias reuniões sobre o assunto, é porque os responsáveis políticos de então tinham interesse nesse produto!
Aliás, nas últimas horas ficou a conhecer-se esse "pequeno detalhe": Afinal os socialistas queriam o "lixo tóxico" do Citi e - "oh ironia!" - foi o "maldito" Franquelim Alves quem impediu a operação.
Mas, voltando à tal "tendência", ontem, comentando precisamente o papel dos responsáveis políticos de então e o seu eventual interesse na proposta do Cito, ouvi na rádio Nicolau Santos referir-se a esses swaps como algo "que até era normal na altura", que o Eurostat "até aceitava esses produtos"...("como disse?!" pensei eu...infelizmente não encontro link)
Mas, esperem lá! Então os swaps - os mesmos swaps - são "tóxicos e malditos" quando o contexto é classificar a conduta do ex-sec estado, mas, quando toca a comentar os governantes de então (os mesmos que, entre 2006 e 20011, assinaram dezenas / centenas destes contratos) os swaps já passam a ser algo que "na altura era normal"?!
Estejam atentos ao tratamento mediático deste assunto nos próximos dias... o meu palpite é este: ou o assunto morre ou vamos assistir a umas interessantes "teorias de desculpabilização" para contextualizar as responsabilidades dos governantes de então. E, caro cidadão, não esqueça:
“esquerda boazinha Vs direita maléfica”.
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