Entrevista: texto escrito a dois
Jornalismo

Entrevista: texto escrito a dois


Mesa 1: Jornalista - entrevistado e entrevistador
Pensar o jornalista enquanto entrevistador, mas também enquanto entrevistado. Essa foi a proposta da primeira mesa de trabalho do 4º Seminário Aberto de Jornalismo, promovido pelo GRupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo - GPJOr, que aconteceu ainda na manhã de segunda-feira. Eduardo Veras, da Unisinos, Fábio Pereira, da UNB, Isabel Travancas, da UFRJ, e Maria Jandyra Cavalcante Cunha, da UNB, destacaram o papel da entrevista como ferramenta tanto do jornalista como do pesquisador na sessão coordenada pela professora Christa Berger. Além disso, lembraram que quem pesquisa jornalismo e é jornalista acaba transitando por esses lugares de fala – hora de entrevistado, hora de entrevistador.
Eduardo Veras (Unisinos)
Veras abriu sua fala lembrando situações em que a entrevista naufragou e, se não comprometeu o produto final, ao menos casou grande embaraço entre quem perguntava e quem respondia. Para ele, o entrevistador deve trabalhar sempre com dois princípios: o de que é necessário uma preparação prévia e o de que é preciso ser sincero. “A entrevista é um pacto de confiança e sinceridade passa por isso. É preciso ser sincero até para reconhecer que não se conhece detalhes do trabalho de quem vai entrevistar”. E Veras conclui com a frase que passa a ser acolhida por todos na mesa: “entrevista não é disputa e nem transferência de saber. É um texto que a gente trama a dois”.
Maria Jandyra Cunha (UNB)
Maria Jandyra leva à mesa um texto de Luiz Cláudio Cunha. Sob o título “A entrevista: 1 fundamento, 2 perguntas, 3 condições”, ele apresenta a entrevista como microcosmos do jornalismo. Através das palavras de Cunha, reitera a idéia de que todo o fazer do jornalismo está baseado na entrevista. É a partir dela que se busca a informação. “E não se pode esquecer a contestação. Ela é parte da entrevista”, acrescenta Maria Jandyra.
Fábio Pereira (UNB)
Fabio Pereira traz um pouco de seu método de pesquisa que é baseado na entrevista. Para ele, o pesquisador não pode ver a entrevista em profundidade como o jornalista vê. “Não são aspas que reiteram o que você quer dizer”. Pereira defende uma atenção especial no trato da entrevista, levando em conta posturas e ambientes onde ela se dá. Bem como o tratamento que deve ser dado ao produto dessa entrevista enquanto fonte da pesquisa. “E no curso da entrevista, isso, muitas vezes, é lidar com disputa de poder entre o entrevistado. Principalmente quando ele é jornalista e sabe se colocar na entrevista”.
Isabel Travancas (UFRJ)
A manhã foi encerrada com a fala de Isabel Travancas, professora da UFRJ, e a reflexão de que a entrevista deve ser tida como ferramenta para a fala do outro. Como os demais, acredita que isso se dá a partir de um grande movimento de escuta e observação. “Ás vezes, é preciso perguntar sobre o que já se sabe para descobrir o que não se sabe”. Para ela, o diálogo que se dá – ou não – durante a entrevista é parte dela e tem significação. Sua fala encerra com duas provocações. A primeira diz respeito a pensar o jornalista no tempo. “Às vezes, ele não tem esse tempo de se preparar. Chega para te entrevistar na sétima matéria do dia e nem sabe o que faz ali diante de ti”. A outra provocação é uma proposta de pensar a entrevista mediada por outros suportes, como a internet.
Essa provocação movimentou o auditório. Em meio a quem defenda a primazia do contato visual e dialógico, há quem pense na funcionalidade e, em alguns casos, a necessidade da entrevista via internet, em especial via e-mail. O que fica da provocação é pensar que embora não possa ser descartada, esta não deve ser tomada como prática corrente e única alternativa. Ou seja, a validade deve ser pensada na individualidade de cada um dos casos.

(Texto: João Vitor Santos)
(Fotos: Beatriz Sallet)



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