Jornalismo
Notícias que passam ao lado das manchetes - Exportações.
A forma desonesta como a comunicação social continua a tratar os aspectos relacionados com este período que Portugal atravessa, nunca deixa de surpreender, veja-se o caso da evolução das exportações …
Desde o final de 2012 a mensagem das redacções para o “cidadão comum”, resumia-se a isto: "O motor das exportações gripou." A este diagnóstico, por se tratar do único sector da economia portuguesa que vinha revelando um bom desempenho ao longo de 2012, é recorrente associar a quebra das exportações em Dezembro de 2012, a uma ideia mais ampla de “falhanço” das políticas económicas deste governo.
Enfim, o jornalismo militante faz sempre questão de “embrulhar” os assuntos num contexto que pretende passar a seguinte narrativa: as medidas que vêm sendo tomadas recentemente – que são forçosamente recessivas e que condicionam a actividade económica em Portugal (os cortes, a austeridade, etc.) -, são resultado de uma opção de A ou de B, e não uma necessidade e consequência de o Pais ter entrado em bancarrota (pela 3ª vez em 30 anos, pela mão dos socialistas, recorde-se…).
Enfim, vende-se a ideia que estas "opções" de política económica resultam da vontade de Passos & Gaspar (esses neoliberais maléficos…) e não da circunstância de nos encontrarmos “amarrados” a um memorando com o fmi e instituições europeias.
Isto é uma falácia! Fosse quem fosse a governar, não poderia escolher um caminho muito diferente, pois estamos agarrados às metas do memorando. O tempo de "viver a crédito" já lá vai, mas parece que muitos continuam a não perceber que equilibrar despesas e receitas é uma questão matemática e não ideológica
(veja-se por exemplo o que está a suceder em França, com Hollande “o crescimentista”).
Mas voltemos ao tópico “exportações”:
Entretanto, chegaram os dados de Janeiro de 2013 e constata-se que as exportações registaram uma subida de 5,6%. Claro que ainda é cedo para dizer que a evolução em 2013 será positiva - aliás,em função da crise europeia, tudo indica que tal não suceda -, mas definitivamente tratou-se de uma notícia positiva. Importante e positiva.
Mas esta "boa notícia" tem um problema: não cola com a narrativa e a mensagem a toda a hora publicitada pelas redacções tão amigas dos ideais de esquerda. Por isso quando a realidade e as notícias não colam com essa narrativa, podem fazer-se duas coisas: simplesmente ignorar (como nestes casos) ou então recorrer à arte de transformar algo positivo em negativo, como nesta notícia publicada no Dinheiro Vivo:
Como classificar, até porque se trata de um órgão de informação especializado na área económica, a forma como esta notícia é apresentada aos leitores?! Será que as notícias deprimentes vendem? Os portugueses não terão já más notícias em n.º suficiente, haverá necessidade de as inventar?
Se uma das razões para a recessão que atravessamos decorre da quebra de procura interna, será que tornando o clima ainda mais negativo - como as redacções parecem empenhadas em fazer - ajudará ou impedirá, a recuperação da confiança dos portugueses? Obviamente, a quebra de consumo está associada à quebra de rendimentos, mas recorde-se que nos últimos 2 anos as poupanças dos portugueses subiram, pelo que, também existem aqui outros factores a influenciar a evolução do mercado interno. E é bem conhecido o peso que as expectativas e a confiança dos consumidores, têm na economia....
Note-se como, depois de semanas com inúmeras referências na comunicação social à quebra das exportações, nos dias seguintes à divulgação deste dado o assunto como que desapareceu da agenda mediática...
Como tudo o que é positivo é ocultado, mesmo tratando-se de um tema vital para a saída de Portugal da crise, nem se discute o que estará na origem da queda das exportações em Dezembro e a (inesperada) recuperação em Janeiro. Estará de alguma forma relacionado com a greve dos estivadores? E se sim, não seria interessante discutir até que ponto estas greves estão a ser prejudiciais ao País?
Gostava, por exemplo, de conhecer a opinião de Arménio Carlos sobre este assunto, pena que para o critério jornalístico luso isto seja desinteressante e nunca saberemos o que os sindicalistas têm a dizer sobre o tema...
loading...
-
Comunicação Social: A Verdadeira Oposição...
Para aqueles que ainda têm dúvidas, apenas referir 3 exemplos, dos 3 últimos dias: Na manhã de 24 de Abril, a TSF brindou-nos com um evento inédito (comparável, talvez, ao episódio radiofónico de Orson Welles em 1938...)...
-
Das Previsões "do Excel" Ao Inesperado Crescimento Do Pib
Depois dos números do desemprego, do crescimento das exportações, foram ontem conhecidos os surpreendentes dados do PIB relativos ao 2º Trimestre. Apesar das boas notícias, obviamente, a situação ainda é de crise. De qualquer forma, uma...
-
Notícias Que Passam Ao Lado Das Manchetes
"Sei que dói, mas há boas notícias" Henrique Raposo "Eu sei que dói, eu sei que custa ouvir, mas a verdade é que há boas notícias em Portugal. O desemprego voltou a cair pelo segundo mês consecutivo. O índice de produção industrial está...
-
O Paradoxo Socialista Vs A Realidade
Diariamente ouvimos dizer que a política de austeridade não resulta e que existia um “caminho alternativo”. Esse “caminho”, invariavelmente, envolve “medidas de estímulo à economia”, “medidas de crescimento”, bla, bla, bla…...
-
Saber Comunicar: O Glamour Da Esquerda…
Desta, o exemplo vem da TSF. Até “já vale” transformar algo positivo numa notícia de teor negativo... Como é habitual, os títulos só nos anunciam cenários negros... mas, próprio corpo da notícia, podemos ler: "Na comparação...
Jornalismo