O jornalismo público praticado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) só vai se consolidar na medida que a sociedade se mobilize e se aproprie do canal. Essa foi a avaliação da jornalista Tereza Cruvinel, presidente da EBC, sobre a experiência à frente da empresa gestora do sistema público de comunicação, criada em dezembro do ano passado."Estamos perseguindo um jornalismo público, um jornalismo com foco no cidadão, que tenha política, economia e todos os conteúdos produzidos pelas fontes superestruturais da sociedade, mas que também tenha conteúdo vindo da sociedade", disse Tereza, em entrevista a estudantes do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos, na última segunda-feira (25). A jornalista esteve em São Leopoldo para ministrar a aula inaugural dos cursos de graduação e pós em Comunicação. Atualmente, 19 emissoras educativas estaduais retransmitem diariamente o Repórter Brasil, principal programa jornalístico da TV Brasil, um dos veículos controlados pela EBC. Tereza Cruvinel comemora o fato de o Conselho Curador da EBC, formado por personalidades indicadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ter considerado o programa "tecnicamente correto e politicamente isento", em episódio recente envolvendo a demissão do jornalista Luiz Lobo. Em relação às críticas à ausência de participação de entidades da sociedade civil no conselho, a presidente da EBC acredita que a experiência ainda está em formação e que o órgão deve avançar neste sentido nas próximas renovações. De acordo com Tereza Cruvinel, a EBC está empenhada em criar uma cultura de controle público sobre os meios de comunicação no Brasil, o que seria fundamental para a consolidação da prática do jornalismo público no País. "Existe uma especificidade do jornalismo praticado por canais públicos, na medida que ele tem distância dos condicionamentos de mercado e de governo. Ele pode construir uma agenda que não é necessariamente aquela que é ditada pelo governo nem aquela que é ditada pelos meios privados. Essa é uma diferença. Agora, o fundamental é o interesse público. O jornalismo de interesse público pode ser praticado numa empresa privada também. O jornalismo público deve procurar as pautas da própria sociedade para a sua pauta de operação diária. Claro que isso depende do grau de mobilização e de apropriação do canal público pela sociedade. Quanto mais ela entender que esse canal é nosso, ela vai entender que ali ela pode propor uma pauta e fazer com que ela seja aceita. O nível ideal dessa prática de jornalismo público virá na medida em que a gente consiga se implantar e a própria sociedade consiga entender a natureza pública. Acho que estamos longe disso. A EBC, como empresa gestora do sistema público de comunicação, é muito mal compreendida ainda", afirmou.
(Texto - Daniel Cassol / Foto - Marina Chiapinotto)