Jornalismo
Relatório de encontro 06/2012
Data: 05/07/2012
Local: Sala 5321
Presentes: Fabiana Piccinin, Demétrio Soster, Cristiane Lautert e Cátia Kist.
Relatório elaborado por Cátia Kist.
Abertura
Os professores Fabiana e Demétrio iniciaram o encontro discutindo as possibilidades de dia e horário para realização dos encontros do grupo, com o objetivo de facilitar mais participações. Foi definido que o grupo se reunirá nas quintas-feiras, às 13h30min, a cada 15 dias, com reinício após as férias de inverno da Unisc, em 2 de agosto. O professor Demétrio irá contatar os membros para verificar quem continuará a participar do grupo no segundo semestre, quando será buscada maior assiduidade aos encontros e empenho na pesquisa. Na retomada dos trabalhos, no próximo mês, o grupo deverá iniciar a produção de um artigo. Para isso, o professor Demétrio sugeriu que se pesquise a metodologia adequada para analisar audiovisual.
Conceitos sobre enredo/intriga
Na sequencia, os participantes apresentaram conceitos de diferentes autores a respeito de enredo/intriga. O professor Demétrio leu e comentou trechos do Dicionário de Teoria da Narrativa (p.211-213). Segundo Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, a intriga, conceito elaborado pelos formalistas russos e definido por oposição a fábula, corresponde a um plano de organização macroestrutural do texto narrativo e caracteriza-se pela apresentação dos eventos segundo determinadas estratégias discursivas já especificamente literárias. A intriga comporta motivos livres que traduzem digressões subsidiárias relativamente à progressão ordenada da história, e derroga frequentemente a ordem lógico-temporal, operando desvios intencionais que apelam para a cooperação interpretativa do leitor.
Ao elaborar esteticamente os elementos da fábula, a intriga provoca a "desfamiliarização", o estranhamento, chamando a atenção do leitor para a percepção de uma forma. Nesse processo de elaboração estética do material assume especial relevo a questão da ordenação temporal: à linearidade de consecução das ações, na fábula, opõe-se muitas vezes a disposição não-linear dessas ações, no plano da intriga. A organização da fábula em intriga depende também em larga medida do jogo de perspectivas, que em última análise corresponde às estratégias discursivas do narrador.
A problemática da intriga pode ser focada sob um outro ângulo, diretamente ligado ao conceito de plot, há muito privilegiado pela teoria e crítica literária anglo-americana. Neste último plano, considerar-se-á a intriga como noção atingida por uma mais estrita caracterização; deste modo, se toda a intriga é uma ação, não pode simetricamente dizer-se que toda a ação é uma intriga.
Além da sucessividade e do consequente enquadramento temporal dos eventos, esta última implica duas características específicas: a tendência para apresentar os eventos de forma encadeada, de modo a fomentar a curiosidade do leitor, e o fato de tais eventos se encaminharem para um desenlace que inviabiliza a continuação da intriga, como notoriamente se observa, por exemplo, no romance policial.
A análise da intriga só será metodologicamente satisfatória se ultrapassar o plano da descrição sintagmática, quer dizer, o domínio da pura sucessividade e concatenação dos eventos que a integram. Para tanto, é necessário que a configuração da intriga seja conexionada com outros componentes da estrutura da narrativa (as personagens que a protagonizam, os espaços em que se dinamiza, os tratamentos temporais que o seu desenrolar exige, etc.) e também com os cenários periodológicos que justificam e estimulam a construção de relatos dotados de uma intriga tensa.
A professora Fabiana destacou três características do enredo: nada é ocasional (sucessividade), enquadramento no tempo e encadeamento. Cristiane Lautert ainda apresentou o conceito de Samira Nahid de Mesquita, do livro “O enredo”: “é a própria estruturação da narrativa, o produto das relações entre a matéria narrada, a ação da narrativa, a sucessão e a transformação das situações e dos fatos narrados”. Cristiane também trouxe o conceito de Robert Scholes e Robert Kellogg em “A natureza da narrativa” (p. 148). “O leitor da narrativa espera poder terminar sua leitura tendo alcançado um estado de equilíbrio – alguma coisa semelhante a uma calma de espírito, estando toda a paixão gasta. Na medida em que qualquer narrativa deixa no leitor esta sensação, pode-se dizer que esta narrativa tem um enredo”.
Paul Ricouer
Após comentários sobre estes conceitos, Cristiane Lautert concluiu a apresentação sobre “A intencionalidade histórica”, segundo Tempo e Narrativa (Paul Ricouer), iniciada no encontro anterior. Principais tópicos:
- Entidades de primeira ordem: povos, nações, civilizações.
- Entidades de segunda e terceira ordem: classes, seres genéricos, economia, demografia, sociologia, organizações, mentalidades, ideologias (p. 290).
- É porque cada sociedade é composta de indivíduos que ela se comporta na cena histórica como um grande indivíduo.
- O historiador pode atribuir às entidades a iniciativa de certos cursos de ações e a responsabilidade histórica de certos resultados, mesmo não intencionais (p. 284).
- A história geral tem como tema sociedades particulares, como povos e nações, cuja existência é contínua (p.278).
- As histórias especiais têm como tema aspectos abstratos da cultura: tecnologia, arte, ciência, religião (p. 278).
- “Nada na noção de personagem, entendido no sentido daquele que faz a ação, exige que este seja um indivíduo” (p. 280).
- “O tempo histórico parece sem vínculo direto com o da memória, o da expectativa e o da circunspecção de agentes individuais” (p. 254).
- Sua estrutura é proporcional aos procedimentos e às entidades que a história-ciência emprega.
- O tempo histórico tanto parece se desenvolver em intervalos homogêneos quanto numa multiplicidade de tempos: tempo curto do acontecimento, tempo semilongo da conjuntura, longo prazo das civilizações, longuíssimo prazo dos simbolismos fundadores do estatuto social (RICOUER, 1994, p.254).
- A narrativa histórica (como, aliás, a da ficção) pode lidar com deslocamentos através do tempo, para a frente e para trás, aos saltos ou por degraus, e unir personagens distintos, separados no tempo e no espaço ( BARROS ,2011, p. 14).
Bibliografia complementar:
BARROS, José D’Assunção. Paul Ricouer e a narrativa histórica. Disponível em: http://www.historiaimagem.com.br/edicao12abril2011/paulricoeur.pdf.
COSTA, Arrisete C. L. Explicação histórica e compreensão narrativa: na trilha de Paul Ricouer. 2008. Disponível em: http://www.uss.br/arquivos/mestrado%20historia/revist_mest_hist%20v10%20n2%202008.pdf.
NICOLAZZI, Fernando. Uma teoria da história: Paul Ricouer e a hermenêutica do discurso historiográfico. Disponível em: http://ich.ufpel.edu.br/ndh/downloads/historia_em_revista_09_fernando_nicolazzi.pdf.
MESQUITA, Samira Nahid de. O enredo. São Paulo: Ática, 1986.
Próximo encontro: dia 2 de agosto, às 13h30min. Não ficou estabelecida nenhuma tarefa para o reinício dos trabalhos do grupo, mas os professores Fabiana e Demétrio sugeriram que, no período de férias, os participantes resgatem os conceitos já estudados, identificando-os em alguma narrativa.
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