Nota introdutória: este post não visa a "classe dos médicos", mas a cobertura mediática que tem sido dada ao assunto nos últimos dias.
O sector da saúde, tem sido um dos mais afetados na "era pós-troika". E, dentro deste sector um grupo em especial – os médicos – tem vindo a perder muitos dos privilégios que usufruía… Este facto, aliado ao perfil do atual bastonário (ideologicamente mais radical que os próprios sindicatos do sector), determina um clima de constante guerrilha contra o Ministério de Saúde e, por arrasto, o atual Governo.
Ora, onde existe uma "força" a lutar contra o governo "reacionário de direita", já se sabe, a solidariedade de uma boa parte da comunicação social não poderia deixar de comparecer na luta… Assim, nos últimos dias, temos assistido a uma verdadeira cruzada na imprensa que nos tem dado conta da vida precária dos médicos fruto, claro está, das "maldades" deste governo.
O Jornal I, apresenta hoje esta peça "Quanto ganham os médicos no SNS?" que pretende caracterizar o que são as condições remuneratórias dos médicos. Desenganem-se aqueles que pensavam que os médicos tinham ordenados chorudos! De acordo com a peça que recorre a 10 "casos reais", o ordenado médio líquido de um médico rondará os 1.500 € / mês.
Enfim, gosto de ver peças jornalísticas que recorrem a casos reais para retratar uma qualquer situação, mas duvido que os elementos utilizados na peça retratem fielmente o que quer que seja e fica a dúvida se a peça - em vez de informar - não visa apenas "fazer opinião" (pré-médicos & anti-governo).
Uma breve pesquisa na net para tentar saber "quanto ganham os Médicos no SNS", fez-me chegar a esta notícia acerca do "Balanço Social do Ministério da Saúde em 2012". Dela, embora não constem informações específicas sobre os médicos, permite a constatação de alguns dados sobre os encargos / custos com o pessoal no sector, dados que pode ser úteis para uma breve reflexão sobre o tema.
Eis alguns informações:
"Ministério tem mais de 126 mil funcionários
[…]
Os encargos com pessoal baixaram de 3.332.546.492 euros, em 2011, para 2.871.830.528 euros, no ano passado [2012].
Os suplementos remuneratórios também baixaram de 601.066.218 euros para 551.105.171 euros."
Ora, com base nestes dados e a preciosa ajuda da matemática (matemática, talvez uma das principais razões que levou tantos estudantes a enveredar pela comunicação social…), rapidamente chegamos a um encargo médio por trabalhador de 27.166 € / ano = 1940 € / mês (valor ilíquido, considerando 14 meses).
Note-se, que este valor de vencimento mensal médio dos 126.000 funcionários do Ministério da Saúde, não é muito distante do vencimento médio de um médico, apontado na peça do Jornal I.
Ainda de acordo com o mesmo relatório: "Em relação às carreiras, os enfermeiros representam cerca de um terço dos trabalhadores do Ministério da Saúde, seguidos dos assistentes operacionais (21,4%) e os médicos (19,3%)."
Estas 3 classes totalizam cerca de 75% dos funcionários do Ministério. Deduz-se que os restantes seja funcionários, por ex., funcionários administrativos.
Considerando os dados extraídos deste relatório e as conclusões apontadas pela peça do Jornal I, pergunta-se: Será que os médicos auferem sensivelmente os mesmos vencimentos que as restantes categorias (assistentes operacionais, administrativos, enfermeiros...)?!
Serão os médicos os novos pobres?
Desconheço o que se passa no sector da saúde. Os dados acima referidos resultam apenas dos meus conhecimentos de matemática e poderão ter muitas leituras e falta de rigor. No entanto, as notícias que vou lendo nos jornais são ainda menos rigorosas!
Com certeza muitos médicos terão razão de queixa das políticas seguidas e é obrigação dos governantes tomar as decisões que resolvam os problemas existentes, eliminando eventuais injustiças e salvaguardando - note-se -, os interesses dos cidadãos e... contribuintes.
Nota: não duvido que as maiores injustiças possam ser encontradas - como em muitas outras áreas - entre os médicos que estão agora a aceder à carreira e a geração dos "direitos adquiridos", mas isso é tema que não interessa aos jornalistas e redações...
Mas não podemos aceitar acriticamente esta campanha da comunicação social que visa apenas contribuir para o clima de "guerrilha mediática" instalado entre médicos e governo. Esta campanha, que pretende apresentar na praça pública a classe médica como o "cordeiro a ser sacrificado" às mãos do ministro Paulo Macedo, só prejudica a tentativa de chegar a um desfecho adequado e uma solução equilibrada para os diferentes interesses em jogo (corporativos Vs bem comum).
Para finalizar. Todos nós conhecemos médicos e, usando de algum bom senso e observação do que nos rodeia, podemos constatar através de alguns sinais (o carro, a sua casa, etc.*) que algo "não bate certo" entre a ideia que estas peças jornalísticas nos pretendem oferecer e a realidade.
Srs. Jornalistas, "isto" não é informação, é doutrinação pura!
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