José Rodrigues dos Santos: a mais recente vítima dos censores do mediaticamente correto...
Jornalismo

José Rodrigues dos Santos: a mais recente vítima dos censores do mediaticamente correto...



Como não disse coisas como “os gregos são vítimas da austeridade, “os gregos são vítimas de Merkel ou “os gregos passam fome porque os credores lhes impõem austeridade”, JRS – tal como sucedeu a Isabel Jonet, Soares dos Santos, F. Ulrich, César das Neves, etc.. - é o mais recente proscrito da linha de pensamento único que domina a agenda mediática. 

Admitindo que algumas passagens das suas reportagens podem levar a uma generalização a todo o povo grego de práticas de corrupção ou de fuga aos impostos, será essa “caricatura” mais desviada da "realidade" apresentada por aqueles que repetidamente se referem à Grécia como uma “vítima da austeridade e de Merkel”?!


Não será a narrativa da “esquerda”, que assenta numa ideia chave – a “austeridade” é a origem de todos os malesa maior caricatura de todas?

Dizer, por exemplo, que a Grécia está a passar pela III Guerra Mundial, será menos infeliz que constatar que a corrupção faz parte do dia-a-dia dos gregos? 
 
Em suma, a indignação com as reportagens de JRS decorrem de um mau trabalho jornalístico realizado ou serão apenas fruto de mais um episódio de condicionamento do que é (ideologicamente) aceitável dizer-se no espaço mediático?



Mentiras que, mil vezes repetidas, se transformam em verdades… 

A narrativa dominante dos media estabelece uma relação causa / efeito entre as “políticas europeias de austeridade” e a crise. Será mesmo assim?

Por exemplo, o altíssimo nível de desemprego (provavelmente o principal problema europeu), poderá até estar relacionado com as tais "politicas europeias", mas, não decorrerá essencialmente de outro fenómeno, conhecido há mais de 20 anos, a globalização?
(nomeadamente, a deslocalização da produção da Europa para Leste, Oriente, Norte de África, etc.)


Será “uma caricatura” dizer que enquanto uns países - com os alemães à cabeça – se prepararam, fazendo as necessárias reformas e ajustamentos para esse embate, outros dizendo que "há mais vida para além do défice" se limitaram a ir "empurrando com a barriga para a frente"?
 
Há 10 anos atrás, os alemães estavam a limitar salários à função pública enquanto gregos (e portugueses) os aumentavam! Será “uma caricatura” dizer  que Portugal e a Grécia (também outros, mas fundamentalmente estes), foram vivendo à custa do crédito que a entrada na  Zona Euro lhes possibilitou, mas ignoraram sistematicamente as duas regras essenciais exigidas à permanência nessa mesma zona: défice próximo dos 3% e dívida pública abaixo de 60% do PIB? (Critérios de Convergência de Maastricht)..


Não será que, em larga medida, estas duas posturas e a respetivas sociedades, estão a “colher o que semearam”?


Outra linha de argumentação recorrente é a evocação das responsabilidades dos alemães na II G.M., concretamente, as suas dívidas de guerra à Grécia. Sinceramente, faz algum sentido sugerir uma espécie de “acerto de contas” misturando uma dívida que, essencialmente, é o resultado das asneiras, das megalomanias e da irresponsabilidade dos gregos (que também a houve por cá) com uma guerra de há quase 80 anos?!


Se vamos entrar neste tipo de contabilidade qual é o limite? Por ex. nós portugueses, estaremos na disponibilidade para reconhecer e pagar, as dívidas correspondentes às riquezas extorquidas às nossas antigas colónias africanas, ao Brasil, etc.?...

Aliás, e dentro ainda desta narrativa de "guerra": em vez dos alemães, mais depressa vejo como meus principais inimigos aqueles políticos portugueses que, à custa de dívida a pagar com os meus impostos (e, no futuro, pelos meus filhos e netos...), fizeram as auto-estradas onde ninguém passa, um tgv que não saiu do papel, as obras do parque escolar, etc.! Esses, sim deviam ser vistos como os verdadeiros inimigos (em vez de andarem a meter-se em autocarros para lhes demonstrar solidariedade...) 

O mesmo, talvez mais até, não se aplicará ao povo grego?


Repare, aqui em Portugal, é frequente relacionar os cortes e a austeridade com os submarinos “comprados pelo Portas”. Não é curioso constatar que os mesmos que usam os “nossos” 2 submarinos como arma de arremesso político contra a área de centro direita, acham infeliz, e até apelidam de xenófobos, aqueles que recordam os 6 submarinos comprados pelos gregos como "caricatura" do escandaloso nível de corrupção na Grécia?

Qual é o princípio e a coerência?...
 
Outro exemplo, atente-se nesta declaração de Roberto Almada, cabeça de lista do BE na Madeira:

 “Chegou a hora de aposentar compulsivamente Alberto João Jardim, que nos levou a um beco sem saída, que fez com que a região estivesse endividada até ao tutano, que fez com que os nossos filhos e os nossos netos estejam com o seu futuro endividado"


Claro que nenhum jornalista questionará o bloco, ou alguém da esquerda, se não é demagógico e contraditório, dizer que A.J. Jardim nos endividou até ao tutano” e comprometeu o futuro “dos nossos filhos e netos” e, simultaneamente, dizer que os gregos são vítimas da austeridade e da “bruxa” da Merkel...


Não digo que a Europa deva abandonar os gregos à sua sorte, mas custa a acreditar na forma infantil como este assunto é tratado na agenda mediática, onde existem: os “bonzinhos da esquerda” que querem crescimento e emprego Vs os “mauzões da direita” que querem a austeridade.


E, confrontados com este contexto e esta narrativa mediática, será assim que os portugueses irão votar nas legislativas aqui a uns meses…


Enfim, Portugal é muito isto… 
 
 
 



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