Telejornalismo e internet
Jornalismo

Telejornalismo e internet



Alexandre Pettilo em ação

por
Alexandre Petillo*


A gente precisa usar a internet como aliada. Falar é fácil. Mas é isso que eu ouço há, sei lá, pelo menos 13 anos. E nessa mais de meia década não tive nenhuma idéia revolucionária ou pelo menos razoavelmente boa e transformadora capaz de aliar o que eu estivesse fazendo no momento com a rede – e ainda conseguir ser ao mesmo tempo novidadeiro e rentável. O que me consola é que poucos realmente conseguiram.

Hoje eu trabalho com telejornalismo. E, confesso, ainda não convivemos com a sombra e a pressão constante que passa quem faz jornalismo impresso – aquela velha história, “ah, a internet vai acabar com os jornais e revistas, o que vamos fazer?”. Não, não acho que a TV vai acabar e todo mundo só vai assistir as coisas pelo computador. A TV é o meio de comunicação de massa e vai continuar assim por um bom tempo. Ao menos no Brasil. É sério. Se existe um dos poucos signos de comunicação capaz de unir um sujeito do interior do Rio Grande do Sul com um camarada do sertão do Mato Grosso é que ambos sabem quais foram as principais notícias do Jornal Nacional. E provavelmente ambos devem gostar das narrações do Galvão Bueno.

Por enquanto a principal transformação do telejornalismo na internet é a nova maneira como os jornais chegam a um novo tipo de telespectador – que pode vê-lo a qualquer hora, acessar pelo notebook, celular, etc. No modo de fazer, a coisa está mais ou menos do mesmo jeito. Claro que tem alguns gols. Contar com a participação do telespectador que envia fotos, vídeos e notícias para a redação em muito ajuda na cobertura. Você pode ter uma dimensão maior do fato antes da equipe de reportagem chegar ao lugar. O que te permite pensar e analisar melhor que tipo de abordagem você pode dar. Fora isso, no geral, no modo de fazer, está tudo meio como sempre foi.

Mas a vantagem disso tudo é que você pode testar. E dei uns chutes aqui e ali. Faço a direção de um núcleo de programas na Rede Vanguarda, afiliada Globo no Vale do Paraíba, Litoral Norte, Serra da Mantiqueira e Região Bragantina. Uma área de cobertura importante do Estado de São Paulo. Para completar a Rede Vanguarda é do Boni, um dos inventores e feiticeiro da televisão no Brasil. Por aqui, trazer o novo é fundamental. E a gente tenta.

No Vanguarda Mix, programa dedicado ao público jovem, a gente persegue a convergência com a internet o tempo todo. Logo que o Twitter se estabeleceu, fizemos um programa totalmente inspirado na ferramenta. As 18 horas de uma segunda-feira, os dois apresentadores posicionaram-se na frente da emissora e postaram no Twitter: “a gente vai fazer o que o primeiro mandar”. Daí em diante ficamos as próximas 14 horas fazendo tudo que era sugerido pelo Twitter. A gente seguiu os nossos seguidores. A conta do programa no Twitter ganhou, nessa noite, mais de três mil seguidores. Entre as pautas sugeridas nessas horas sob o domínio do Twitter, E o programa foi um sucesso de audiência – ganhou destaque até na coluna de TV da “Folha de S. Paulo”. Uma boa idéia, que funcionaria ainda melhor numa grande cidade como São Paulo e Rio de Janeiro – mas altamente trabalhosa. Até agora só fizemos uma vez. Mas poderia render um programa regular.

Dentro do Mix também fizemos uma “seita virtual”. Eu li que tinha um sujeito que criou uma seita onde as pessoas mandavam fotos com a cabeça dentro de uma geladeira. E o cara publicava essas fotos em um blog. Decidimos criar a nossa “seita virtual”. Criamos um monte de poses diferentes, que as pessoas mandavam. Usamos as fotos no programa e também no blog. Outro grande sucesso. O pessoal assistia para se ver. E depois entrava no blog para se ver. Uma das situações criadas, inclusive, incitava a rapaziada a tirar fotos ridículas com os sempre sérios apresentadores dos telejornais da casa. Ficou engraçado, quebrou um pouco o gelo.

A internet foi fundamental também para a gente conhecer que tipo de público assiste um quadro sobre futebol que eu apresento, chamado “Boteco Vanguarda”. A mesa redonda vai ao ar dentro do programa “Madrugada Vanguarda”, que fala sobre música, cinema, comportamento e vara as noites de sexta, após o programa do Jô Soares. Como a pesquisa não pega esse horário, a gente não sabia quem nos via – e se ao menos tinha alguém que via. De sopetão, sem avisar nada pra ninguém, sorteamos um livro através do blog do quadro. Assim: quem estiver vendo agora o Boteco e entrar no blog vai ganhar um livro. Já se passava das duas da madrugada quando soltei esse anúncio. E centenas de pessoas participaram. Bateu recorde de acessos. A partir dali, a relação programa-blog ficou mais estreita e um não vive sem o outro. E, pelo horário que o quadro vai ao ar, o número da audiência pela TV e pela net deve ser bem parecido. Hoje o blog é uma das páginas mais acessadas do portal de notícias da emissora. E o quadro cresceu muito, virou carro-chefe do programa. Acho que não teria o sucesso que tem sem a ajuda da internet.

Mas ainda falta aquele chute forte e colocado no ângulo. Como assim falei eu mesmo logo acima, falta algo novidadeiro, revolucionário e rentável. Assim que eu descobrir, prometo que conto. Você jovem jornalista, que veio até aqui em busca de dicas, ficou com algumas histórias. Eu sei que te decepcionei. Mas é aí que está a graça. A ferramenta é a mesma para mim e para você. O negócio é continuar chutando. Hoje, por exemplo, é domingo. Acabei de ler no “Estadão” que amanhã, também conhecida como segunda, o caderno “Link” sairá em 3D. Idéia do velho amigo Alexandre Matias, sempre a frente. Estou morrendo de curiosidade. Jornal em 3D, só podia ser coisa do Matias. O negócio é esse. Nunca tivemos tantas ferramentas à mão para se fazer absurdos criativos. Tá com você.


* ALEXANDRE PETILLO é jornalista. Na verdade, queria ser o Casagrande, mas acabou no jornalismo no lendário Notícias Populares. Criou a revista Zero, escreveu para a Folha, Estadão, Playboy, Época, Superinteressante e Placar. Editou o livro Noite passada um disco salvou minha vida, em que 70 músicos e jornalistas falam de seus discos favoritos. É diretor do núcleo de programas da Rede Vanguarda, afiliada Globo no Vale do Paraíba, em que também apresenta o Boteco Vanguarda, mesa-redonda sobre futebol, além de fazer reportagens para o Globo Esporte.



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