"O jornal impresso serve para enrolar peixe"
Jornalismo

"O jornal impresso serve para enrolar peixe"


Como você avalia o uso das novas tecnologias colaborativas e participativas na construção de um novo jornalismo?
Gosto muito dessa inovação. Ao mesmo tempo, por trás disso tem uma coisa de todo mundo dar palpite. Não existem mais as estrelas e as celebridades. Acho que estamos vivendo um campo social novo.

Hoje em dia com tudo isso surgindo e com todas as pessoas dando suas opiniões, verdadeiras ou não, a gente está, pouco a pouco, desconstruindo a realidade dita concreta. A gente está vivendo uma realidade mais simbólica. Quanto mais os meios de comunicação foram aumentando e quanto mais as pessoas puderam falar, a realidade que você vê, ouve e toca foi sendo desconstruída.

Esse fenômeno tem colaborado, então, para colocar em pauta o que antes ficava na borda?
Sim, novas realidades, novos contextos sociais. Uma das coisas mais ricas de tudo isso foram as minorias surgindo. Na Internet se você não fala, não se pronuncia, você não existe. E as minorias sociais, os homossexuais, os negros, os orientais estão podendo dizer “eu existo e a minha vida é assim”. Isso se torna uma realidade para a pessoa, uma realidade simbólica. Uma realidade mais democrática.

Isso é uma nova maneira de se fazer jornalismo?
Está se tornando, ainda é um processo.

Qual seria, então, o papel do jornalista nesse novo cenário?
Acho que o jornalista tem que ficar no impresso, nas mídias de massa. Nos blogs ele pode até ser jornalista, apurar jornalisticamente, mas tem que estar aberto a um lado menos jornalista, ser mais pessoal, autoral, artístico, opinativo.

E a captura de jornalistas “estrelas” do impresso pelo online na tentativa de os colocarem para ser justamente mais opinativos, pessoais e autorais?
Na verdade eles já são do mundo das estrelas porque eles vem do impresso. A audiência que eles tinham no impresso simplesmente migrou para a internet. O que é novo é, por exemplo, o Mister Manson, que nunca existiu midiaticamente e agora é uma estrela. Mas acho isso muito restrito. As pessoas se apaixonam mais pelo conteúdo. Como ele se populariza, ele está mais presente na internet, há mais links espalhados e as pessoas o encontram mais.

E também essas novas estrelas por causa da web 2.0 são diferentes das estrelas tradicionais. Antigamente, com a não participação do público, essas estrelas vinham prontas e o público tinha que engoli-las como elas fossem e não podiam agir sobre essa estrela. Essas novas estrelas são estrelas montadas pelo público, que diz como ele quer essa estrela, comenta, interfere na audiência e essa pessoa tem que ir se moldando. É o que acontece no meu blog. Você tem uma certa liberdade, mas esse público acaba te moldando.

O impresso está com os dias contados?
O que eu acho sobre o impresso é algo que eu já disse e repito. Ele tem duas alternativas. Primeiro, investe em conteúdo mais opinativo, mas pesado. Ou – o que prefiro – esquece um pouco o texto, coloca fotos enormes e investe nas matérias de foto legenda. O homem contemporâneo está cheio de mídia, de texto, de coisa para ler, para fazer. E a apreensão mais rápida da informação facilita bastante a vida de todos nós.

Mas estamos preparados para isso, depois de tantos anos de jornal impresso sendo entregue em nossas portas todos os dias?
Eu pessoalmente estou super preparado.

Mas as pessoas que conviveram a vida toda com uma forma de jornalismo tradicional talvez ainda não estejam. Quando essa geração acabar e ficarmos apenas nós, o impresso entra em declínio de vez?
Não tenho certeza se isso vai acontecer. Acho que a tendência é não se investir mais no impresso. Acho que vão ficar poucos jornais, os menores tendem a desaparecer. Além disso, eles devem mudar estruturalmente em algo que seja inesperado. Mas acho que eles não vão desaparecer. Acho isso impossível.

Qual necessidade que ainda temos do impresso?
Eles servem para rasgar, circular, enrolar peixe...

Então, o Sérgio nunca vai trabalhar em uma redação?
Pode ser que sim, não é o que ele quer, mas eu não tenho problema moral nenhum com isso.

Você acredita na legitimidade do jornalismo cidadão?
Claro que é legítimo. A pessoa tem o direito de fazer o que ela quer. Acho que a pessoa pode produzir uma reportagem, ou algo que ela ache uma reportagem, de maneira até mesmo tendenciosa. Mesmo porque na Internet a gente sabe que as regras são outras. Ninguém precisa ser objetivo, fazer uma pirâmide invertida e um lide.



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