Jornalismo
clicrbs/vidafeminina e o vulto lilás dos acontecimentos
Rio Grande do Sul, final do Séc. XIX. É neste cenário, e com o empenho do Centro Positivista de Porto Alegre em divulgar as idéias de Auguste Comte, que circulou em 1894, no jornal Mercantil (DEL PRIORI, 2000), um texto que exaltava as qualidades essenciais de uma mulher, nos seguintes termos:
"Quem é esse nobre vulto (....)? é a mulher mãe!"
"Quem é esse vulto formoso (....)? é a mulher virgem!"
"Quem é aquela figura sublime (....)? é a mulher esposa!"
"Quem é aquele vulto amoroso (....)? é a mulher filha!"
Rio Grande do Sul, início do Séc. XXI. O cenário é lilás, chama-se
Vida Feminina, e é uma sessão do Portal de noticias clicrbs.com.br, cujo conteúdo esta organizado sob os seguintes temas:“Sempre aqui: Moda e Estilo, Saúde e Beleza, Comportamento, Casa e Família, Vida Profissional” e ainda “Sua Vida Feminina: Dúvidas entre os lençóis, Terapeuta Virtual, Testes, Enquetes, Mural, Promoções”.
O que distancia e o que aproxima estes dois cenários? O que os aproxima são as formas tradicionais e naturalizadas de tratar as questões do universo feminino, e podem ser caracterizados em termos de rupturas e permanências. Rupturas, ainda que tímidas, porque estes vultos tomaram corpo e não há como não reconhecer a presença feminina no espaço público, ainda que as condições possam ser questionadas. Mas as permanências são marcantes: ora explícitas, ora sutis, reproduzem discursos sobre os papéis femininos, identificando a mulher como um ser complementar ao homem. As duas épocas revelam uma sociedade que busca prescrever condutas, modelar atitudes e disciplinar os interesses femininos, orientando-as para os papéis de esposa e mãe. A permanência também se revela enquanto uma prática da imprensa, que sempre teve a preocupação de oferecer espaços para Correios Sentimentais, Aconselhamento e Testes, reforçando a representação da mulher como um ser que necessita ser guiado e revelando a descrença na sua autonomia. Estes espaços que sempre figuraram em nossos jornais e revistas, um exemplo é o Jornal das Moças de 1950 (Del Priori, 2000), se atualizam na internet, e mais, se apropriam de referências construídas pelas lutas feministas, como o uso da cor lilás, que é a cor símbolo do feminismo, e está estampada no clicrbs. Mas seu conteúdo permanece e continua reproduzindo uma moral que destina para a mulher o lugar de vulto do homem, de alguém que pode “figurar” na vida do namorado, marido e dos filhos, mas não ocupa o lugar central. Barthes (1972) em sua análise sobre os correios sentimentais revela esta “condição de parasita” que a sociedade prescreve para a mulher e mostra, ainda, o lugar destas práticas na manutenção da ordem social estabelecida. Entre 1894 e 2008 muita coisa se rompeu. Entre 1894 e 2008 muita coisa permaneceu. Unindo estes dois cenários está o alerta feminista de que “o pessoal é político" e que uma vida feminina vai muito além das horas que uma mulher possa passar entre fraldas e mamadeiras ou sob os lençóis. Esta mulher está em frente ao espelho que reflete, mais do que sua aparência, contornos bem nítidos do vulto que tomou forma e se fez visível.
(Vera Martins)
* Texto apresentado na disciplina de Crítica das Práticas Jornalísticas.
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