Jornalismo
Da (hiper)sensibilidade selectiva do jornalismo…
“Cavaco afirma que a sétima avaliação da troika é “inspiração de Nossa Senhora de Fátima””
A (mais que prevísivel) reacção de desdém da intelligentsia e das redacções alinhadas à esquerda, a propósito das afirmações de Cavaco Silva que, dando conta da sua satisfação pelo fecho da 7ª avaliação da Troika, fez uso de uma alusão de matéria religiosa para enfatizar a importância do assunto, é bem demonstrativa da linha anti-religiosa e jacobina que, de há muito, caracteriza alguma esquerda portuguesa.
Não sendo de esquerda, pessoalmente, também me faz confusão esta mescla de referências religiosas nos discursos ou na “vida política” – ao Estado o que é do Estado e à Igreja o que é da Igreja -, mas, o que não posso deixar de notar é esta hipersensibilidade selectiva do jornalismo militante a esta tipo de prática. Selectiva, sim, pois nunca vi o mínimo incómodo ou os habituais comentários de escárnio destes mesmos "beatos da laicidade", quando o mesmo tipo de referências são proferidas por figuras conotadas com a esquerda – Chavez ou Obama, por exemplo.
NOTA: Para sermos rigorosos, Cavaco Silva não proferiu a frase do título do Público (também, se o fosse, dificilmente seria do Público…) pois no próprio corpo da notícia, a autoria dessa frase é atribuída a Maria Cavaco Silva. Mas isso é um pormenor sem qualquer importância…
Para mais facilmente constatar a falta de coerência e duplo critério nesta matéria, atente-se a algumas passagens de discursos de Obama e, por comparação com Cavaco Silva, tentemos responder à pergunta “Qual dos Presidentes mais recorre a “Deus” nos seus discursos?”
“…America needs leaders who are willing to face the storm head on, even as they pray for God's strength and wisdom so that they can do what they believe is right,"
“We'll choose love. Because Scripture teaches us God has not given us a spirit of fear and timidity, but of power, love and self-discipline.”
“You are the men and women who will push this nation upward as Mexico assumes its rightful place in the world, as you proudly sing: “in heaven your eternal destiny was written by the finger of God.””
Recorda-se o leitor de comentários a criticarem Obama deste uso despudorado de referências religiosas nas suas comunicações ?...
Enfim, como em muitas outras matérias, também aqui se prova uma das práticas mais comuns do jornalismo militante: não existe interesse em discutir “o que se diz”, i.e., a substância ou o conteúdo do assunto em discussão, não. Em primeiro lugar está o “quem o disse” e, partindo daí, a análise do assunto na agenda da comunicação social evolui, invocando indignação / revolta ou passividade / benevolência, conforme o assunto se coaduna com a narrativa esquerdista da ocasião.
Ainda sobre esta “hipersensibilidade selectiva” ou a lógica de filhos e enteados da comunicação social lusa, o que se diria de Cavaco Silva se, naquele registo de “gajo porreiro” que Obama tanto pratica, fizesse um número de “relações públicas” como o deste calibre, recentemente realizado em Washington…
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