Hackers, jornalistas e a importância do pensamento computacional
Jornalismo

Hackers, jornalistas e a importância do pensamento computacional





por
Diego Sieg*


Tente imaginar o mundo atual sem a revolução promovida pelos Hackers, durante as décadas de 1980 e 1990. Praticamente impossível, não acha? Afinal, cada vez mais, os aparelhos computacionais estão presentes em nosso dia-a-dia. Seja em casa, no trabalho, dentro do carro, do ônibus, na rua ou, até mesmo, no espaço estamos sempre plugados com o mundo e, sobretudo, com todos. A ousadia destes desbravadores tecnológicos em criar e propor soluções aos diferentes desafios, despertou e, consequentemente, moldou uma nova etapa da sociedade. Microcomputadores, interfaces gráficas, World Wide Web, mobile e games encontram-se entre tantas outras ideias inspiradoras que transformaram a maneira como nos comunicamos, trabalhamos, produzimos etc. Enfim, é inegável o poder que estas tecnologias exercem ou exerceram sobre o nosso passado, presente e futuro. Mas, e o jornalismo? Como podemos nos beneficiar dessas tecnologias para melhorar a nossa prática de trabalho?

As respostas são muitas e a cada segundo novas soluções começam a emergir dentro das redações espalhadas por todos os cantos do planeta. Contudo, muitas dessas transformações são, geralmente, confusas e traumáticas. Afinal, como devemos readaptar o fluxo de trabalho e direcionar a cabeça dos antigos e novos profissionais para estas recentes necessidades? Um dos caminhos, proposto em um artigo do site do Instituto Poynter “How Computational Thinking is Changing Journalism & What's Next”, escrito por Kim Pearson, é o pensamento computacional. Para a autora, o "Pensar Computacionalmente" significa criar e fazer uso de diferentes níveis de abstração, para entender e resolver problemas com mais eficiência. Significa pensar algoriticamente e com habilidade para aplicar conceitos matemáticos como indução para desenvolver soluções com mais eficiência, justiça e segurança. Significa ainda entender as escalas de conseqüência, não apenas as razões de eficiência, mas também as razões econômicas e sociais envolvidas. Resumidamente, nada além dos princípios básicos e norteadores da prática hacker, que, desde sempre, teve por essência o espírito de invenção, modificação e recombinação das coisas com o objetivo de alcançar resultados diferenciados e, sobretudo, transformadores.

O jornalista do futuro, além de ser um contador de histórias e um produtor de conteúdo multimídia, deverá aliar à sua prática diária essa tal essência hacker e, com o auxílio do seu pensamento computacional, começar a utilizar de forma mais inteligente o infinito oceano informacional disponível na rede. Só assim conseguirá ser relevante e, por consequência, despertará a atenção da sua potencial audiência.

Em um primeiro momento, antes de desenvolver habilidades específicas em softwares e linguagens de programação, o profissional de comunicação deve entender as características peculiares da comunicação em rede e todas as suas potencialidades. Já em uma segunda fase, não muito distante, novas habilidades deverão ser incorporadas ao repertório profissional jornalístico, estreitando cada vez mais o laço entre as ciências da comunicação social e da computação. A multidisciplinaridade poderá ser uma necessidade vital para a sobrevivência do jornalismo. Porém, estes tais “Hackers Jornalistas”, também conhecidos como “Jornalistas Programadores”, poderão possibilitar novos horizontes à comunicação jornalístca? No artigo, “Can Computer Nerds save Journalism?”, publicado no site da revista Time, o autor, Matt Villano, promove uma discussão bastante interessante sobre esta realidade e aponta alguns dos possíveis caminhos, principalmente quanto as novas diretrizes necessárias à formação desses futuros profissionais.

Atualmente, como estamos inseridos em um mundo totalmente Beta, ou melhor, em um cenário de constante evolução e adaptação tecnológica, o jornalismo necessita mais do que nunca de inovação, experimentação e desafios. Prova disso, são as recentes propostas encabeçadas por tradicionais empresas de comunicação, como o britânico The Guardian e o americano The New York Times. Estas corporações, ao abrirem suas Api's (Application Programming Interface ou Interface de Programação de Aplicativos) à comunidade de desenvolvedores e também ao realizarem eventos de hackemento (os famosos hack days) dentro das suas estruturas operacionais, apostam na possibilidade de transformação e de readaptação do jornalismo dentro da cultura das redes interconectadas.

Afinal, mais do que apurar e escrever bons textos, para estas empresas, este novo perfil de profissional deverá saber lidar com a grande quantidade de informação proveniente de diferentes bases de dados (sejam públicas, privadas, abertas, fechadas etc), desenvolver e utilizar ferramentas de extração, filtragem, cruzamento e visualização de dados, entre tantas outras atividades computacionais ainda a serem concebidas.

Para tanto, devemos deixar alguns antigos dogmas para trás, quebrando paradigmas e mudando a maneira como hoje enxergamos a prática jornalística. A dromocrácia, imposta pelo ciberespaço, pede urgência em mudanças estruturais, sobretudo, na formação dos profissionais do amanhã. Assim, como podemos ver, os desafios são muitos, contudo, as possibilidades também são infinitas. A relevância social, essência do jornalismo, será sempre a mesma, o que mudam são as possibilidades de se trabalhar esta característica. Em prol de um jornalismo mais dinâmico, intuitivo, imersivo e, sobretudo, inteligente, devemos ousar e não termos medo usar a nossa criatividade. Inovar, desconstruir, recriar... Ficar parado, esperando o próximo trem passar, não nos levará a lugar algum. Muito pelo contrário, apenas nos colocará cada vez mais em uma posição de dependência e atraso. Afinal, como diz o ditado, quando dominamos um conhecimento, não ficamos reféns de ninguém, mas sim, passamos a ser senhores da nossa própria transformação. Que o espírito Hacker possa contaminar o jornalismo!


* Diego Sieg é jornalista, comunicólogo, pós graduando em comunicação social, freela (textos, fotos e design), mochileiro, pesquisador das áreas de cultura e comunicação em rede.



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