Jornalismo
Nascer no País da Equidade…
Como já aqui referimos, a sociedade portuguesa lida de uma forma muito própria com os valores da igualdade e da equidade. Em suma, este valor só é absoluto quando estão em causa os direitos de alguns...
E, se há vertente onde é possível constatar esta noção disfuncional de equidade, é a forma como, enquanto na agenda mediática se dá muita visibilidade e importância a questões de suposta falta de justiça e desigualdade que afectam um determinado grupo ou indivíduo, por outro lado, a sociedade portuguesa - escondendo o assunto "debaixo do tapete" - convive com brutais assimetrias de acesso a recursos públicos disponibilizados nos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto, nomeadamente), por comparação com o resto do País.
Veja-se, por ex., na área da Saúde: Quantos estabelecimentos de Saúde foram encerrados nos últimos 10 anos, nomeadamente, no interior do País?
Quantas maternidades, cuja alternativa se encontra a 50, 60 ou 100 km, foram encerradas passando os cidadãos e populações que se viram privados desses serviços, a conviver com o nascimento dos seus a bordo de uma ambulância a caminho de unidades de saúde?
“Bebé nasce em ambulância. Bombeirosvão ser os padrinhos”
“Bebé nasce em ambulância na A1”
“Bebé nasce em ambulância da CruzVermelha de Carvalhais de Lavos na A14”
“Bebé nasceu em ambulância acaminho do hospital de Penafiel”
“Bebé nasce em Ambulância dos Bombeiros de Alcoutim perto de Tavira”
“Bombeiros dos Voluntários deFamalicão trouxeram ao mundo uma menina com 2,850 quilos em plena ambulância,em Lagoa, Famalicão.”
“Sines. Bebé nasce numaambulância à porta de casa. Este foi o segundo parto emambulâncias da corporação de Sines no espaço de dois dias.”
NOTA: Basta uma pesquisa no google por "nascimento ambulância..."
É importante esta introdução, pois permite formular a seguinte hipótese:
Até que ponto estas discrepâncias são reflexo da forma desigual de tratamento - seja ele, político, social ou mediático - a que inúmeras matérias são sujeitas, consoante estas digam respeito a Lisboa ou ao "resto do País"?.
“Tribunal trava fecho da Maternidade Alfredo da Costa
"Sentença obriga Ministério da Saúde a manter maternidade aberta e a repor serviços entretanto transferidos para a Estefânia.”
“O tribunal determina ainda a "reposição imediata de funcionamento de todos os serviços — sem qualquer excepção — da MAC, mediante realização de todas as operações necessárias, para o que se fixa um prazo de 15 dias, cujo incumprimento deve ficar sujeito a aplicação de sanção compulsória".”
Considerando que os serviços encerrados em Trás-os-Montes, nas Beiras, Alentejo, etc., cujos impactos para as populações - por não terem as alternativas que os cidadãos de Lisboa dispõem - foram (são) bem mais gravosos -, que razões de ordem jurídica, podem explicar esta decisão por parte dos Srs. Juízes no caso da MAC?
E o que têm a dizer sobre isto, os paladinos da Equidade?
(da MAC ao Hospital da Estefânia, são 1.200 metros aproximadamente)
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