Jornalismo
Nós e os outros
Aê, maninhos, será que dá pra me emprestar um pouquinho de melanina? Sempre me intrigou a temática do 'outro'. O estrangeiro, o migrante, o imigrante, o que não 'pertence' originalmente ao lugar de onde se fala. Talvez por ter estado, muitas vezes, do 'lado de lá'. Já fui nordestina vivendo no Sudeste. Já fui latina morando na Europa. Talvez resida aí meu interesse.
Numa pesquisa que ando tocando para finalizar um artigo justamente sobre o tema (a representação midiática dos nordestinos no Brasil e dos estrangeiros na Alemanha), acabei me surpreendendo com um elemento-surpresa.
Meu objetivo era ter como
corpus de análise apenas textos de jornais que tratassem desses personagens, de modo a identificar presenças, diferenças e recorrências no modo em que esses públicos têm sido retratados por parte da imprensa. O que não me passava pela cabeça era a riqueza de material que encontraria nos comentários dos usuários/leitores dessas matérias.
Confesso que venho me assustando com a permanência da intolerância. E também, que bom, com a lucidez de muitos leitores. Em especial, queria destacar uma matéria veiculada no
Süddeutsche Zeitung, no dia 17 de setembro passado.
O texto traça o perfil e fala sobre como anda a vida de um jovem (21 anos) de origem turca, após ser atacado violentamente por um igualmente jovem alemão, em Munique, pela velha torpe e estúpida causa da intolerância racial. (o termo vem por pura falta de melhor definição, pois considero que raça, além de não significar patavinas, nem sequer existe mais formalmente. a respeito, artigo interessante de Dráuzio Varella, na FSP)
Bom, o fato é que o texto suscitou 41 comentários até agora. O interessante é que os usuários podem valorar as opiniões em boas e más. Há visões nos extremos. Dos neo nazi-fascistas disfarçados de patriotas pós-modernos aos neo-hippies libertários. Há votos aos dois grupos (tanto apoiando, como desancando).
Destaco apenas dois dos comentários (de forma bem resumida e editada, pois são bem grandes. peço desculpas antecipadas por eventuais deslizes de tradução):
*Gerhard:
Jeder Ausländer darf Deutsche beschimpfen wie ihm das passt, vom anmachen deutscher Frauen noch ganz zu schweigen. Sie werden dafür in keinster Weise zur Rechenschaft gezogen. (...) Beim Brand eines Wohnhauses mit Türken als Bewohner darf sich sogar eine Verunglimpfung des gesamten deutschen Volkes durch Türken erlaubt werden. (...) Der abgebildete Türkenjunge ist ja wohl kein Deutschter? Betreibe ich jetzt Volksverhetzung?
Qualquer estrangeiro pode xingar alemães como quiser, pode se insinuar para mulheres alemãs. Por isso eles não vão ser responsabilizados de maneira alguma. Agora, se uma residência com moradores turcos pegar fogo, eles podem até depreciar todo o povo alemão (...) Esse jovem turco retratado não é considerado alemão? (ele nasceu na Alemanha e possui o passaporte alemão, nota minha). Então estou demonstrando ódio racial?**Alex:bayerische justiz war schon immer so und wird auch so bleiben. dieser fall wird nichts ändern.
ausländer egal ob mit deutschem pass, werden härter bestraft als richtige deutsche, ist so
leider. aber was sollte sich auch nur nach 60 jahren ändern?? A justiça bávara sempre foi assim e assim continuará. Esse caso não vai mudar nada. Os estrangeiros, não importa se portadores ou não da cidadania alemã, sempre serão mais duramente punidos do que os alemães de verdade, infelizmente é assim. Mas o que é mudaria somente 60 anos depois?Em tempo: dois usuários votaram no primeiro depoimento. O primeiro voto considerou o depoimento como bom. O segundo, como ruim. Eu fui a segunda votante. Já em relação à opinião acima, há um empate técnico entre valorações positivas e negativas.
Em tempo, ainda: as eleições do último domingo na Áustria deram maioria aos social-democratas (cerca de 29%), MAS os partidos de extrema direita avançaram consideravelmente, conquistando um total de 29% - sendo 18,01% para o Partido da Liberdade (aquele do penúltimo post) e 10,98% para a Aliança para o Futuro da Áustria. Fonte: O Globo.
Medo, muito medo. De verdade. Como diria a Alex do comentário lá em cima, o que é que mudaria "apenas" 60 anos depois?
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