Jornalismo
O “wishful thinking” das redacções VS o País Real
Sou um fã de estatística. Agrada-me a ideia de, através de “uma parte”, ficar a conhecer “o todo”. Em estatística, isto significa, através de uma “amostra”, conhecer a “população”. No entanto, existe sempre um erro associado a esta extrapolação da “parte” para o “todo”. A amostra tem de ser representativa população, sob pena de as conclusões serem enviesadas...
Isto ocorre-me quando olho para o “espaço mediático”: os alinhamentos dos telejornais, os noticiários na rádio, os destaques e manchetes nos jornais, etc.. Até que ponto os seus conteúdos (a amostra) traduzem o pensamento e as sensibilidades representativas da sociedade portuguesa (a população)?
O tratamento mediático da contestação social
Obviamente, tem existido agitação social, mas será que a sua dimensão real concide com a noticiada? Por exemplo, as greves:
“Greve: CGTP fala em grande adesão e pede reunião de urgência ao PM”
“Greve afecta 90% blocos operatórios e consultas externas”
“Greve em Portugal em dia de luta europeia”
são frequentemente anunciadas como de grande adesão, planos mostram-nos, invariavelmente, "mares de gente". No entanto, não deixa de ser curioso constatar as conclusões de estudos como este:
“Segundo um estudo do Instituto de Ciências Sociais, mais de quatro quintos dos trabalhadores do País (82,4%) nunca aderiram a uma paralisação.”
É claro que um dado objectivo como este nunca fez perder mais do que 5 segundos no espaço de debate público… mas, olhando à realidade apurada pelo estudo do ICS, será que que não é mais avisado desconfiar do jornalismo de causas que, inflamado, habitualmente nos brinda com tiradas como esta:
“Os portugueses saem nesta quarta-feira à rua contra a austeridade num protesto que pretende ser “histórico” para toda a Europa”
Será que isto tem adesão à realidade ou é a tradução de um qualquer desejo?...
Outro exemplo. Os adeptos do turismo de manifestação (em digressão nacoinal nos autocarros fretados pela CGTP e, não raras vezes, pago com dinheiro dos contribuintes) que desembarcam, aqui e acolá, de acordo com o roteiro e agendas dos governantes, fazendo o seu número de agitação de cartazes, de bandeiras, de lançammento de uns insultos e o inevitável momento lírico “O Povo é quem maaaisss ordeee…eenaaaaa….”, serão um espelho da sociedade portuguesa e do "país real"?
Estes exemplos, que de há um ano para cá, ocupam a quase totalidade da agenda noticiosa, serão mesmo uma amostra fidedigna do “povo português”? Repare-se no alinhamento dos telejornais. Atente-se no tempo que as redacções atribuem – da esquerda à direita – às diversas facções e personalidades, e interroguem-se: será que faz sentido que as posições da extrema esquerda, que representam cerca de 5% dos eleitores, ocupem mais de metade das mensagem politica que passa na rádios, tv e jornais?
Quantas vezes, nos últimos 2-3 dias, ouviu o caro leitor o hino de Zeca Afonso!?
(a única virtude, diga-se, foi ter ocupado o espaço dos videos youtube do "gangnam style"...)
As redacções vs o país real...
Concluindo:
O espaço mediático atual, será o espelho da sociedade portuguesa e traduzirá de forma isenta as diferentes correntes e sensibilidades existentes ?
Ou será que esse espaço, negligenciando a missão de informar de forma isenta e, não raras vezes, menosprezando até o pensamento e as convicções da maioria, empenha-se, suportado nas convicções de uma minoria alinhada com o “wishfull thinking” do jornalismo militante, num exercício diário de doutrinação da “população” com os seus próprios valores?
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