Jornalismo
Qual será a distância entre a “versão mediática” e a Realidade?
Várias vezes aqui no blog se questionou a adesão à realidade do que é noticiado, especialmente, nos media de grande audiência (por exemplo aqui ”O País dos telejornais das 20h, será o País Real?”, ou aqui “O “wishful thinking” das redacções VS o País Real”).
Desta vez chamamos a atenção para a cobertura mediática do caso dos Estaleiros de Viana ("polémica"que também já tinha sido focada neste post).
Durante semanas, fomos bombardeados com reportagens diárias nos telejornais que nos davam conta da “luta dos trabalhadores” contra a concessão daquela empresa. Inúmeras vezes, partilhei uma refeição com o Sr. Arménio da CGTP e um outro Sr. com ar ainda mais zangado (de 0 a 10, ele será um 8. Um 10, já agora, é o Daniel Oliveira) que sistematicamente eram identificados nesses peças jornalísticas como sendo os “representantes dos trabalhadores”.
E o que, repetidamente e de forma peremptória, nos diziam esses representantes? Os trabalhadores são contra as rescisões!
“"O Governo está com uma grande preocupação em fazer o despedimento coletivo dos trabalhadores e quer acelerar este processo. Tivemos conhecimento que pretendem fazer, já a partir de segunda-feira, o convite para as rescisões por mútuo acordo, mas os trabalhadores não devem aceitar essa proposta", afirmou Branco Viana.”
Entretanto, o caso deixou de abrir telejornais e este fim de semana, vários órgãos de informação noticiavam:
“Só 11 não aceitam plano de rescisão dos Estaleiros de Viana”
Ou seja, 98% dos trabalhadores aceitaram a proposta ... este detalhe também é interessante:
“11 funcionários não aderiram ao acordo. A tutela acrescenta que dos sete elementos da comissão de trabalhadores cinco aderiram à proposta.”
Entre o cenário que os telejornais nos apresentaram e este desfecho, não há aqui nada de estranho?! De outra forma, qual será a distância entre a “versão mediática” e a Realidade?
Pergunto: será que aqueles sindicalistas, tal como os srs. jornalistas nos informaram, representavam efetivamente a vontade da maioria dos trabalhadores?
Será que não existiam outras correntes entre as centenas de trabalhadores, que o critério jornalístico, simplesmente, optou por ignorar?
Concluindo:
Considera-se um cidadão bem informado?
"O espaço mediático atual, será o espelho da sociedade portuguesa e traduzirá de forma isenta as diferentes correntes e sensibilidades existentes? Ou será que esse espaço, negligenciando a missão de informar de forma isenta e, não raras vezes, menosprezando até o pensamento e as convicções da maioria, empenha-se, suportado nas convicções de uma minoria alinhada com o “wishfull thinking” do jornalismo militante, num exercício diário de doutrinação da “população” com os seus próprios valores?"
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