Por uma outra classificação
Jornalismo

Por uma outra classificação


Este é um post resumo da minha tese. Além disso, uma referência às principais questões que giraram em torno da defesa.

Aproveito para agradecer a todos aqueles que por mensagens e comentários me incentivaram nesta pesquisa e à banca que me deu grandes contribuições. Agora, pouco mais de 15 dias de defendida, ainda com revisões importantes a fazer antes do depósito, acredito ser uma obrigação com meus colegas, estudiosos, parceiros e amigos trazer aqui um resumo deste trabalho sobre gêneros jornalísticos.

A pesquisa teve como corpus três produtos de mídia impressa (tradicional) e mídia digital (nova ). Estudamos Le Monde e Lemonde.fr, El Mundo e Elmundo.es e Folha de S.Paulo e Folha Online. Acompanhamos os 3 primeiros meses de 1997. Selecionamos 4 editorias - internacional/mundo, cultura/ilustrada, cidade/sociedade e política/nacional. 

Entretanto, partimos dos grupos de ocorrência, ou seja, de eventos segundo suas características, seguindo a divisão de Gaye Tuchman quanto a eventos noticiáveis - mega-acontecimento, hard news, developing news e continuing news. Selecionamos 4 grupos de ocorrências: eleição presidnecial da França (2007); o massacre no campus de Virginia Tech; incidentes nos metrôs de Paris, São Paulo e Madrid; e exposições de artes plástica.

Conceito

A tese defende que os gêneros jornalísticos são enunciações relativamente estáveis, ao invés de enunciados relativamente estáveis (Bakhtin).

Sugerimos, ao final, quatro principais critérios para se definir um gênero da atividade jornalística. Essas dimensões são dimensões extralinguísticas da ordem de participantes, lógica enunciativa e potencialidade do médium (Debray) (no Slide 3). Ou seja, estamos sugerindo que um gênero se forma, na atividade jornalística do jornalismo de atualidade, quando uma dada configuração dessas dimensões se repetem e acabam por se institucionalizar. 


Finalidade

Sempre se acreditou que a finalidade era "o" critério para se dividir, classificar, compreender um gênero jornalístico. Nós entendemos que a finalidade não é da composição discusiva, mas sim da instituição jornalística. É nesta dimensão que se deve pensar a finalidade/função. As composições têm lógicas enunciativas que estão relacionadas a estas finalidades, mas as finalidades são aquelas reconhecidas pela comunidade discursiva (Swales, Maingueneau) como tal.


Competências do jornalismo

Nesta pesquisa, destacamos a importância das competências jornalísticas. A partir das sistematizações de Traquina (por autores norte-americanos), Lage (Grice) em comparação com sistematizações de Rosenstiel e Kovach, Meyer, destacamos a importância de se levar em conta, na lógica enunciativa, as competência empregadas na produção de dado "gênero"* : 1) competência de reconhecimento, 2) competência de procedimento, 3)competência discursiva e 4) competência de domínio.

Noção transmidiática

Defendemos uma noção trasmidiática, que deve ter em conta o domínio (jornalístico). Uma noção que explique se considerar uma entrevista como gênero de impresso, rádio, tv ou produtos digitais. Se o "dispositivo prepara para o sentido" (Mouillaud), não se pode dizer que o dispositivo modifica o gênero se ele modificar, por que o que forma o gênero são as regularidades dessas dimensões extralinguísticas, constituindo uma dada composição de identidades discursivas, lógicas enunciativas, forças argumentativas e médium.

Formatos

Por isso, defendemos que alguns formatos podem ou não virar um gênero. É preciso que as essas dimensões se mantenham regulares para que se considere um gênero discursivo de uma dada formação discursiva. Um vídeo (exemplo) é um formato que nunca será um gênero jornalístico. A principal razão é que um "vídeo" não tem unidade composicional que dá conta de uma notícia, uma idéia. Um vídeo é um formato sem de imagens em movimento sem unidade composicional**.


Objetos de realidade

Os objetos de realidade são a matéria-prima do jornalismo. A grande maioria dos estudos do jornalismo trabalham com a concepção de que a prática jornalística trata apenas de fatos (ocorrências passadas). Os acontecimentos podem estar em ocorrência ou terem um dado grau de probabilidade de ocorrer, ou seja, acontecimentos possíveis, prováveis, previsíveis. Há um motivo simples para esta variedade da matéria-prima do jornalismo: a realidade é feita desses mais variados objetos. 

A realidade inclui desde o que é verificável pela simples observação, os chamados "objetos de acordo" de fácil comprovação, como fatos passíveis de constatação intersubjetiva pela simples presença, "objetos de acordo" que não são pasíveis de verificação, como "verdades" de saberes científicos, até intenções de declarações, objetos abstratos impossíveis de se verificar e mesmo de se alcançar acordo. Esta sistematização de objetos de acordo e de descordo foi realizada a partir do Tratado da Argumentação (Perelman e Olbrechts-Tyteca).

Verificação

Há uma idéia de que todo objeto tratado pela atividade jornalística tem a qualidade de verificação (QV), ou seja, pode ser verificado por parâmetros do saber comum ou dos saberes científicos. Por isso, funciona um elemento na determinação da força de verossimilhança de um objeto de realidade realizado no ato comunicativo, o coeficiente de verificação (CV). O CV de um objeto de realidade é medido pelos tópicos universais e pelos tópicos jornalísticos. Essa dinâmica tem ainda um elemento importante do saber jornalístico: o nível de necessidade de verificação (NV). O objeto pode ser passível de verificação, mas não haver necessidade de verificação em dado contexto.

Classificação

A tese procurou compreender essas dimensões que importam na configuração de um gênero. Por isso, não fizemos classificação de composições discursivas.

Abaixo, disponibilizamos 11 slides dos 21 que fizeram parte de nossa apresentação na defesa, dia 29 de agosto no Pós-Com, Universidade Federal da Bahia. No próximo post, a ser publicado ainda esta semana, destacaremos outros aspectos-chave da nossa tese, como as definiçõe de cada um dos critérios, o que estamos trabalhando como tópicos jornalísticos (vem de Charron e de Bonville), força argumentativa (Ducrot), identidade discursiva (Charron e de Bonville e Foucault) e potencialidade do médium (Debray).

Slide 1

Slide 2


Slide 3


Slide 4


Slide 5



Slide 6


Slide 7



Slide 8



Slide 9



Slide 10


Slide 11



* Quando estivermos usando a palavra gênero com aspas ["gênero"], significa que etamos usando o termo como senso comum na academia. A necessidade de se usar o termo "gênero" se dá pelo reconhecimento do público acadêmico quanto a composições discursivas já institucionalizadas e aceitas intersubjetivamente no meio acadêmico.
** Apresentaremos um artigo sobre essa discussão de formato e gênero no próximo encontro da SBPJor, em mesa coordenada pela professora Thaís de Mendonça e integrada pelos professores: Zélia Adghirni, José Afonso Jr e Demétrio Soster.



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