Jornalismo
Retroespectivando… fim de ciclo, novo ciclo?
Em jeito de retrospectiva, não apenas do ano que agora finda, mas dos últimos 40 anos, aconselha-se (mais) este excelente post no “portadaloja”. Através dele podemos, não só, constatar, mas também perceber alguns dos mecanismos que explicam o fenómeno que aqui designamos por “wishfull thinking” do jornalismo luso.
Através de uma peça jornalística do Público, é possível esmiuçar a narrativa, um autêntico "reescrever da história", que o jornalismo em geral, construiu, e constrói - neste caso particular -, em torno do que correu mal (apesar de uma ajuda massiva da UE, diga-se...) ao longo do processo de transformação social e económica que Portugal enfrentou desde os anos 70, até ao presente.
Transcrevemos apenas este excerto, mas aconselha-se vivamente a leitura do post na íntegra:
“Por outro lado, como é que o autor explica o que ocorreu em 1974-75? Como a coisa mais natural deste mundo, apesar de notificar que houve "alterações profundas na estrutura económica do país. Nesse ano, a economia não cresceu e, em 1975, em particular, o PIB caiu 4,3, um valor não superado por crises posteriores". Isso apesar de o PIB, poucos meses antes crescer a um ritmo de quase dois dígitos. […]
Estes especialistas analisam assim "a economia", como se fosse um fenómeno estático e dado somente a variações numéricas influenciadas pela conjuntura do momento que é entendida como resultado do devir normal de um qualquer país. Nenhum país da Europa sofreu o descalabro económico que sofremos em 1974-75 e nenhum país da Europa teve uma Esquerda (comunista e socialista) como tivemos por aqui naqueles anos e ainda temos e que revolucionaram a economia nacional para todo o sempre. Conseguiram fazer aprovar uma Constituição absurda e com laivos de país das maravilhas em que não deixaram tocar durante mais de uma dúzia de anos… […]
É por estas e por outras que este jornalismo é assim, tipo para quem é bacalhau basta. A Esquerda não tira ilações das suas derrotas porque não as entende sequer. E a linguagem que usa é a chamada "língua de pau" do economês, sem relação dinâmica com a realidade social e política e muito menos com a língua comum ao entendimento comezinho dos fenómenos. Se houve alguma coisa que mudou essencialmente nestes últimos 40 anos foi a linguagem corrente de quem escreve sobre assuntos específicos. Todos apostam nos estrangeirismos, nas figuras linguísticas sem conotações que sejam fáceis de entender e numa espécia de dicionário de rimas do politicamente correcto que empobrece a escrita e principalmente a explicação de qualquer fenómeno.”
Basta ler o título que introduz o estudo analisado no post: “Quando os ventos do exterior acabam com as intenções de reforma”, para confirmar todo um programa defendido pela redação do Público.
Para estes intelectuais do jornalismo, há sempre um alibi – que designam por “factores externos” ou a "realidade internacional" - para desculpar as verdadeiras causas dos sucessivos falhanços de construção de um país com níveis de desenvolvimento mais consentâneos com os nossos parceiros da Europa Ocidental - as “receitas esquerdistas”. Quem formule a sua opinião baseando-se apenas no que lê ou ouve, na comunicação social dificilmente perceberá, mas foi esse o padrão das opções tomadas nas décadas mais recentes.
"A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios basilares da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português...)"
Caro leitor, para melhor contextualização do tema, em 2013, vive num país cuja Constituição tem o parágrafo anterior como preâmbulo.
Concluindo...
Enquanto este “clima mental”, em larga medida, concebido e “amamentado” por este tipo de jornalismo, que faz subordinar factos e realidade, à medida das suas próprias conceções ideológicas e fé militante… Enquanto um povo for - não informado, mas formatado e educado - nesta “realidade paralela socialista”, dificilmente veremos sinais de mudança neste cantinho.
É impressionante como, em pleno Sec. XXI, na suposta era da informação, seja ainda possível conviver com tamanho irrealismo e cegueira ideológica. Repare, no que que toca a socialismo, só se conhecem dois tipos de países ou modelos de sociedade:
- os fictícios ou utópicos: onde, apoiando-se na desigualdade existente em qualquer sociedade e instrumentalizando os mais desfavorecidos, se formula um modelo que funciona perfeitamente nos discursos e na retórica, garantindo - assim que se “embarque” no processo socializante - um país "igual e fraterno", uma sociedade com um futuro resplandecente, bem à medida de um conto de fadas;
- os reais: correspondendo aos países e às sociedades, que efetivamente passaram por tal processo, e que apenas têm para oferecer pobreza generalizada, aumento de todo o tipo de desigualdades e assimetrias, violação dos direitos humanos, presos políticos, fome, etc. (ex-URSS, Cuba, China, Coreia do Norte, Albânia, Venezuela,…).
Pessoalmente, o que considero mais curioso - e talvez um dos grandes enigmas (à mistura com angústia e embaraço) do nosso tempo -, é constatar como responde um esquerdista convicto, por muita formação académica, por mais mestrados e doutoramentos que tenha, quando confrontado com os resultados práticos e consistentes, que o socialismo teve nos inúmeros países onde foi implementado, é qualquer coisa como isto:
“Na verdade, esse regime não seguiu uma experiência autenticamente socialista!..”… Pois… e ainda dizem que são as religiões que alienam os indivíduos.
Não admira que qualquer “revolução cultural” de matriz socialista, encare com hostilidade a religião – afinal de contas, a "esquerda" tem pavor de
concorrência!
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